O
negacionismo mata
Somos
um país racista.
Em tempos em que a política se afirma pela negação do óbvio, precisamos ser
diretos.
Para
constatar, basta olhar para o mundo com olhos de ver: nossos espaços de poder
são brancos. Todos. Avaliem as fotos dos ministros de Estado, dos integrantes
do Congresso, dos ministros do STF, políticos, donos de grandes empresas.
Todos. Inclusive aqueles recentemente presos por corrupção. Quantas pessoas
passaram a associar a branquitude ao mau uso do dinheiro público?
Nenhuma. Dirão que associar a cor da pele de alguém à maior ou menor propensão para cometer determinado crime é racismo. E é. Por que admitimos então o discurso daqueles que justificam o trocar de calçada porque "os negros são maioria entre os presos"? Aparentemente, ninguém "trocou de calçada" ao escolher os seus candidatos.
E
não, o problema não é só a divisão econômica que assola esse país de abismos
sociais. Dissemos há pouco que os espaços de poder são brancos num país que só
é branco pela metade. A base da nossa pirâmide social é negra. E, atentem, não
por acaso: a exclusão que atinge pessoas negras considera a cor da pele porque,
historicamente, foi a cor da pele o critério para a exclusão.
O
discurso que segrega, como pretendem alguns críticos, não é aquele que
reconhece o racismo que se impõe como realidade, mas aquele que nega o racismo
estrutural.
Para
o presidente e o vice, não há racismo nesta terra que tem palmeiras onde canta
o sabiá. Nas palavras de Jair, "brancos, negros e índios edificaram o
corpo e o espírito de um povo rico e maravilhoso". Esqueceu de contar a
parte em que negros e índios, obrigados a participar na construção de algo, não
partilharam dos frutos dessa construção. É só voltar à constatação do início da
coluna.
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