O
general e o capitão tiveram posições diferentes, mas fazem parte do mesmo
pandemônio
Pelos
mais diversos motivos, 57 milhões de pessoas votaram em Jair Bolsonaro. O
general da reserva Hamilton Mourão fez mais que isso, aceitando ser o seu
vice-presidente. Hoje
os dois mal se falam e não se ouvem.
Deu em nada. Hoje, Mourão reconhece que "faz algum tempo" que não conversa em particular com Bolsonaro. Era apenas ilusão de um general ajudando a campanha do capitão. Mourão sempre soube onde se metia.
O
grande Stanislaw Ponte Preta ensinou que o vice-presidente acorda mais cedo
para ficar mais tempo sem fazer nada. Marco Maciel (vice de FHC) e José Alencar
(vice de Lula) seguiram a lição, cada um à sua maneira.
Mourão
agora revela que está "pronto para acompanhar Bolsonaro caso ele deseje e
vá ser candidato em 2022, porque tudo é possível daqui para lá".
Tudo
é possível, mas com recessão, uma pandemia e tanta maluquice solta por aí, o
que o país menos precisa é de uma crise entre o presidente e seu vice. Michel
Temer detonou Dilma Rousseff, mas sua origem e força política estavam no
Congresso. Mourão veio da caserna e, como muitos militares, entrou numa
campanha e caiu num governo que pouco tem a ver com o que esperava. O general
Eduardo Pazuello não sabia o real tamanho da encrenca em que se meteria.
Militar, ele é capaz de achar que manda em quem o ouve e obedece ao que
determina o presidente. Melhor destino teve o paisano Nelson Teich, que
aceitou o ministério da Saúde e foi-se embora 28 dias depois, salvando sua
biografia de médico.
O
vice-presidente tornou-se um personagem secundário nessa usina de conflitos,
mas é parte dela. Bolsonaro pode ter exagerado quando disse que "Mourão
é mais tosco do que eu", mas os dois se conhecem melhor do que a
maioria das pessoas que votou neles.
Em
dois anos de coabitação palaciana, o general e o capitão tiveram algumas posições
diferentes mas, no essencial, fazem parte do mesmo pandemônio. Bolsonaro não
fez de Hamilton Mourão um "assessor qualificado" e o general deslizou
para uma condição de eventual contraponto.
Como ensinou o poeta, no vasto mundo das confusões de Bolsonaro, se ele se chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução.
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