Falta
saber se as políticas do presidente Biden vão convencer a metade trumpista da
população a mudar o ponto de vista
Donald Trump foi derrotado nas
eleições e pelos próximos quatro anos não mais ocupará o Salão Oval da Casa
Branca. Mas os 74 milhões que nele votaram continuarão a escalavrar a vida
social dos Estados Unidos. As forças que nele se
penduraram continuam aí, irredutíveis em seus pontos de vista.
Há
um caldo de frustração e de ressentimento que continua tomando conta da vida
política dos Estados Unidos. Os historiadores, sociólogos e cientistas
políticos continuarão a analisar o fenômeno que está associado ao desmanche do
sonho americano. Pelo menos metade da população sente que desapareceu tanta
coisa com que contava, talvez para sempre, de suas vidas e das vidas das
gerações seguintes.
As oportunidades se estreitaram, o desemprego aumentou, o ensino já não prepara mais para a vida profissional, o salário é uma parcela do que dele se esperava, a casa própria começa a ficar inacessível. A aposentadoria se esvai pelas razões acima apontadas e porque as aplicações financeiras são corroídas por juros reais negativos.
Há,
em tudo isso, razões históricas, culturais, políticas e demográficas, como o
envelhecimento da população. Mas, do ponto de vista econômico, tem a ver com o
processo de integração de segmentos enormes da população asiática aos mercados
de trabalho e de consumo.
E
também tem a ver com a incorporação ao sistema produtivo da Tecnologia da
Informação, cujo resultado é enorme redução de custos de produção e dispensa de
mão de obra. Basta conferir o que acontece com os bancos, que fecham agências e
adotam operações automáticas com aplicativos, e o que acontece com o
crescimento do e-commerce, que transforma lojas em showrooms, reduz estoques e
dispensa vendedores.
Este
é o momento em que não se perseguem as causas dos problemas nem tampouco
soluções, mas procuram-se culpados. O culpado é quem está sendo apontado, dedo
em riste, por tomar o mercado de trabalho. É o chinês que empurra para os
mercados produtos por uma fração do preço dos fabricantes tradicionais e toma o
emprego do trabalhador americano; é o imigrante que se sujeita a salários
irrisórios e derruba o mercado de trabalho; é a população negra que reivindica
os mesmos direitos de quem já os tem.
A
pressão se transfere aos canais institucionais. O livre-comércio passa a ser
entendido como instrumento de empobrecimento das classes médias; as políticas
de distribuição de renda, de assistência social e o acesso a serviços públicos
de saúde, como canais que desviam recursos dos pagadores de impostos para os
folgados de sempre... Enfim, a pressão é por protecionismo e por políticas
xenofóbicas e racistas. A polarização ocupa o lugar dos acordos consensuais.
Por enquanto, venceram Joe Biden e aqueles que se apegam a outros diagnósticos e a outras respostas. Falta saber se as políticas do presidente Biden convencerão a metade Trump da população a mudar seu ponto de vista e a outra metade a continuar fazendo as mesmas apostas que fizeram nas últimas eleições. Quem viver verá.
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