As
diferenças estão no passado
Por
que ao falar do Centrão e nomearem-se os partidos que o integram costuma-se
deixa de fora o MDB? Talvez em respeito ao seu passado de lutas contra a
ditadura militar de 64.
Tempos
arriscados aqueles quando uma palavra fora de lugar, uma imagem mais forte ou
uma proposta infantil bastava para cassar o mandato do seu autor, condená-lo à
prisão ou forçá-lo ao exílio.
Há
menos de um mês, morreu o advogado e ex-deputado federal José Alencar Furtado.
Em 1977, líder do MDB na Câmara, ele foi cassado por ter dito num programa de
televisão:
“O
MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para que não haja
lares em prantos. Filhos órfãos de pais vivos – quem sabe – mortos, talvez.
Órfãos do talvez ou do quem sabe. Para que não haja esposas que enviúvem com
maridos vivos, talvez, ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe e do talvez”.
O
ato de cassação foi assinado pelo então presidente da República, o general
Ernesto Geisel, que dizia conduzir o país na direção de uma abertura política
lenta, gradual e segura.
O
deputado Márcio Moreira Alves (MDB-RJ) acabou cassado por ter feito um discurso
em setembro de 1968 que não chamou a atenção de ninguém nem mereceu uma linha
nos jornais.
Propôs
um “boicote” ao desfile de 7 de setembro e recomendou às moças que não
dançassem com oficiais naquele dia. Foi o pretexto que a ditadura usou para
tirar a máscara e se assumir como tal.
Por pouco, em 1975, Geisel não cassou o mandato do deputado Ulysses Guimarães (SP), presidente nacional do MDB, que o comparou a Idi Amin Dada, à época ditador de Uganda.
Do
seu passado, o MDB, hoje, só guarda lembranças para desenterrá-las às vésperas
de eleições e sepultá-las no dia a dia da desfaçatez e do fisiologismo
compartilhado com o Centrão.
O
presidente Fernando Henrique Cardoso aliou-se ao PFL, hoje DEM, para governar.
Os presidentes Lula e Dilma aliaram-se ao PMDB, hoje MDB, com o mesmo
propósito.
DEM,
MDB e companhia ilimitada governaram quando Michel Temer, depois de muito
conspirar, sucedeu a Dilma. Bolsonaro tem ministros do DEM e espera, em breve,
ter também do MDB.
Se
por ora ainda não dispõe de ministérios, o MDB desfruta de centenas de cargos
nos terceiros e demais escalões do governo. Diz-se independente, como o DEM diz
que é. Os dois mentem.
Contagem regressiva para o Dia D e a Hora H de Rodrigo Maia
Fica
ou sai do DEM?
Convites
não lhe faltam. O PSDB do governador João Doria (SP), o MDB de Michel Temer e
Baleia Rossi (SP), o PSL de Luciano Bivar (PE), ex-aliado do presidente Jair
Bolsonaro, e o CIDADANIA de Roberto Freire, possível abrigo de Luciano Huck
caso ele seja candidato no ano que vem, abriram-lhe as portas.
Na
semana passada, antes de ser derrotado por Artur Lira (PP-AL) que se elegeu
presidente da Câmara, o deputado Rodrigo Maia ameaçou deixar o DEM acusando ACM
Neto, o poderoso chefe do partido, de traição. Consumada a derrota, Maia
repetiu a ameaça dizendo que com ele levaria para onde fosse um monte de gente.
Eduardo
Paes (DEM), prefeito do Rio, confirmou que o acompanhará junto com seu grupo.
Deputados do DEM, sob a garantia de não terem seus nomes revelados, disseram
que irão com Maia. Ao ex-presidente da Câmara, ACM Neto prometeu passe livre
para sair desde já sem risco de perder o mandato.
No último fim de semana, Maia reafirmou que está com um pé fora do DEM e que não passará desta semana. Estava furioso com ACM Neto. Aberta, portanto, a contagem regressiva para que se saiba afinal se a palavra dada por Maia será cumprida, adiada ou simplesmente esquecida.
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