Bolsonaro
não só abraçou o centrão como se tornou seu chefe
O
mau conceito do centrão —ajuntamento fisiológico mais descarado da política
brasileira, com vários dirigentes envolvidos em corrupção— é quase unanimidade,
e, por isso, falar mal dele rende votos. Na campanha de 2018, o candidato Jair
Bolsonaro referiu-se a esse agrupamento político como "a alta nata de tudo
o que não presta no Brasil" e disse que "essa forma de governar"
(o "toma lá dá cá", o loteamento dos órgão públicos) "é que
levou o Brasil a essa ineficiência e a essa corrupção não encontrada em nenhum
lugar do mundo".
No
mesmo ano, em convenção nacional do PSL, o general Augusto Heleno parodiou um
samba, substituindo a palavra "ladrão" e cantarolando para a plateia:
"se gritar pega centrão, não fica um meu irmão...".
Águas passadas e samba velho. Agora, o centrão foi promovido pelo governo ao centro das decisões da República. Bolsonaro não só o abraçou: tornou-se seu chefe, tendo agido com despudor no caso da disputa pela Presidência da Câmara, quando, com verbas bilionárias e oferta de cargos, comprou a eleição de Arthur Lira, um réu por corrupção.
Logo
em seguida, veio outra vitória da acomodação de interesses ou do acordão da
impunidade: a extinção da Lava Jato (decidida pelo PGR indicado sob encomenda
para atingir esse fim). Bolsonaro entregou aos novos presidentes da Câmara e do
Senado uma lista de prioridades que não contempla nada da agenda anticorrupção.
Nenhuma menção à PEC da prisão em segunda instância (que, segundo o líder do
governo na Câmara, foi criada "só para prender o Lula e tirá-lo da
eleição").
A "nata do que não presta" está eufórica: varou a madrugada da vitória de Lira comemorando na mansão de um empresário denunciado pelo MPF e réu por fraude tributária. Convivas aglomerados esbaldaram-se em atitude indecorosa pela ostentação e despropósito em um contexto no qual a pandemia já ceifou mais de 230 mil vidas. Muitas das quais poderiam ter sido salvas não fosse a incúria das autoridades.
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