Em 2017, uma
unidade de bitcoin, a moeda criptografada, era adquirida por US$ 4.700, e
chegou a US$ 13.400. Atraiu milhares de pessoas. Um ano depois, valia,
entretanto,US$ 3.500, conforme mostra a revista Infomoney (https://www.infomoney.com.br/guias/criptomoedas/).
Seu valor pode
alcançar elevados patamares hoje, e amanhã despencar. Altamente volátil,
é, entretanto, sedutora para quem nada tem a perder ou para quem pensa em
ficar rico repentinamente.
As criptomoedas
são muitas: bitcoin, etherum (ETH), tether (USDT), Ripple (XRP),
Litecoin (LTC) e outras. Mas não tem lastro (garantia) material acessível para
dar suporte aos montantes em circulação virtual e que transitam já pelos
bilhões, embora use como referência o dólar norte-americano, por sua vez
lastreado no fluxo comercial e financeiro no mundo (U$ 25 trilhões).
Impossível, portanto, ignorar seus efeitos políticos planetários. As moedas digitais ajudam, no fundo, aqueles que tentam derrubar a hegemonia do dólar no mercado internacional. Em um momento no passado recente, os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e até do Mercosul pretenderam derrubar o dólar.
Atualmente, a
China disputa com os EUA um espaço para sua moeda, o Yuan, no mercado
internacional. Os chineses estão sempre contestando o uso extensivo do
dólar (e do euro), e tentam mudar a prática. Mas é complicado. Embora
sua moeda tenha lastro nas suas relações comerciais com alguns países
asiáticos e africanos, não tem a confiança do mercado. A própria
China mantém parte de suas reservas depositadas em bancos dos Estados Unidos e
da Europa.
A pretensão à
mudança não é uma decisão tomada autoritária ou revolucionariamente, tipo do
que pregava Chávez. Os Estados Unidos é o único no mundo a manter
relações comerciais com todos os países. Em seus bancos (ou os da Europa) estão
depositadas reservas de praticamente todos eles.
O Sistema
Monetário Internacional é capitaneado pelo Fundo Monetário Internacional, Banco
Mundial, Banco da Inglaterra, Banco de Compensações Internacionais (Suíça) que
reúne mais de 50 bancos centrais e um grupo de bancos nacionais e privados
no mundo – europeus, árabes e japoneses. São eles que acompanham e controlam
o fluxo monetário ao redor do planeta. Nos Estados Unidos, o que se conhece
como FED - Federal Reserve, diferentemente do Banco Central do Brasil, é
integrado pelos 12 conglomerados financeiros privados mais importantes.
São muitas as
tentativas de retirar essa força do dólar como a moeda de referência que
começou com o Plano Marshall despejando bilhões de dólares na Europa e no
Japão para a recuperação do pós guerra e foi legitimado como tal no Acordo de Breton
Woods como alternativa ao padrão-ouro. Com isso, o dólar deslocou a
libra (mais valorizada), o marco alemão, o franco francês e suíço, o yen
(do Japão). Quando criado, uma das funções do euro, configurado em uma cesta de
moedas, seria unificar o sistema monetário europeu e substituir o dólar
nas relações comerciais e financeiras do continente. Contudo, o potencial das
economias europeias varia de país a país: algumas são mais lucrativas, outras
sistematicamente deficitárias. A chegada do euro fez os preços internos
subirem. Fracassou toda essa conspiração, seja do euro, do yen e outros. Os
russos, com o rublo, nem tentaram, a não ser nas relações no Leste Europeu
durante a guerra fria.
As assimetrias
nas economias, maior fluxo de moedas periféricas e câmbios flutuantes
geraram mais instabilidade. Abriram espaço para as criptomoedas, totalmente
virtuais. Os valores são especulativos, apesar do referencial centrado no
dólar. O princípio é também o etéreo mercado da oferta e da
procura. Cria-se um novo meio de pagamento (M1, M2, M3...), sem
respaldo nas políticas monetárias. Os MPs são papéis (títulos do Tesouro, nota
promissória, cartões de crédito garantidos juridicamente como tais, pela
capacidade de gerar valores de compra, de venda e de estocagem de reservas.
Exigem uma complexa administração pelos Bancos Centrais para não implodir as
economias. Indicam a taxa média de juros e são quase determinantes do índice da
inflação, essa que chega ao consumidor e às donas de casa.
Por isso, há quem
considere as criptomoedas como ativos arriscados demais para atrair o
interesse das grandes empresas. Não aparenta ser totalmente verdadeiro. O
Mercado Livre, a maior plataforma de e-commerce existente, comprou,
no primeiro trimestre deste ano, R$ 7,8 bilhões em criptomoedas. A Tesla acaba
de vender 270 milhões em criptomoedas. O BNDES chegou a fazer uma experiência,
arroubo que, parece, foi contido. Afinal, ele opera com recursos do FGTS do
trabalhador. Mas, os Bancos Centrais, inclusive o do Brasil, não estão
ignorando essas moedas. Preocupam pelo fato de não terem qualquer
responsabilidade pelas metas anuais de governos para as
economias. Curiosamente, trata-se de algo paralelo.
O Sistema (SFI)
mostra preocupações. Mesmo porque o lastro para as moedas virtuais começa
a despontar com as novas tecnologias, que não se resumem aos sofisticados meios
de produção e reprodução do capital. Já descem ao nível do consumo individual e
até familiar, podendo confundir ainda mais as políticas monetárias no mundo.
*Aylê-Salassié F. Quintão,Jornalista e professor
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