A
Câmara se entregou. Achou uma pechincha a imposição da velha escola, a
domiciliar
Assim
como não existe legalmente, o Centrão não
tem preços fixos. De um lado do balcão, o presidente da República. Do outro
lado, as legendas, da Câmara sobretudo. Com suas condições no atacado e no
varejo. Em postos bem posicionados, com domínio de comissões decisivas para a
linha de montagem dos produtos, representantes fanáticas do presidente Jair Bolsonaro.
Essas
transações produzem um escândalo atrás do outro. Quem se importa ou se
envergonha?
A Câmara dos Deputados descobriu que o preço do presidente Jair Bolsonaro está abaixo da expectativa do Centrão, uma vez que os critérios da barganha parlamentar só consideram de milhões para cima. Para a sociedade tudo isso é incompreensível e doloroso. Como compatibilizar a votação de uma mudança de costumes com as obras físicas inúteis e superfaturadas? Como pesar o engavetamento do impeachment tendo no outro prato da balança a anulação das minorias parlamentares com uma simples mudança do regimento?
As
concessões de Bolsonaro são em moeda corrente. Já o capital do Centrão inclui
principalmente bens intangíveis. O preço da involução dos costumes, por
exemplo, está ficando insuportavelmente alto. As imposições do presidente são,
na verdade, um conjunto de ideias fixas, resultantes de seu voluntarismo.
A
abertura da Câmara para o voto impresso, por exemplo, é inexplicável em
qualquer idioma, um risco não tabelado.
O
presidente da Câmara, que conduz as negociações, não atua propriamente como
líder, mas como um intermediário que costura composições onerosas.
Quem
presta atenção no fato de que puxam o Brasil para trás, exatamente no quesito
com que causam admiração ao mundo?
Absurdo
que este retrocesso, com a revogação do sistema eletrônico de votação, parta de
uma pessoa que não respira a não ser pelos aparelhos do Instagram, do WhatsApp,
do Facebook, do Telegram, etc. Nem sabe ainda o que fazer da montanha de papéis
inúteis que produzirá.
Colocada
à mesa de negociações diante de outra insensatez, que é a demolição do sistema
educacional brasileiro e seus avanços seculares, a Câmara se entregou. Achou
uma pechincha a imposição da velha escola, a domiciliar. Que tal uma enquete
com os pais de estudantes que estão vivendo esta longa temporada de pandemia
com os filhos submetidos a aulas remotas ou a aula nenhuma? Como se fosse
possível suprimir o papel dos professores e a socialização das crianças e adolescentes,
ou eliminar as novas técnicas pedagógicas e sua integração com a ciência e a
vida.
A
volta a este passado invoca um dos personagens marcantes da literatura
brasileira que está no livro Amar, Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade, publicado em 1927. A inesquecível fraulein
Elza, mais que professora, mestra em tudo. É esta a proposta? O ensino
doméstico acabou na primeira Lei de Diretrizes e Bases.
Quem
poderá pagar por isso? Quem controlará os planos, métodos e conteúdos? A quem
se prestará contas? Quem fará a atualização de conhecimento? Não vale a pena
sequer especular.
Produtos
caríssimos, que o Centrão paga sem pedir desconto.
Nesse
escambo, vale quanto pesa a regressão nas reformas constitucionais. Ou fatiar a
reforma tributária não é o mesmo que dela desistir?
Para
ter os votos da maioria que transformam o país nesta colcha de retalhos, o
presidente vai criando novas moedas, e o Centrão se farta. A mais recente está
expressa em um orçamento paralelo e secreto, revelado por Breno Pires em
reportagem publicada pelo Estadão. Invenção que vale ouro nesta contabilidade.
O resultado pode ser um trator trombando com uma retroescavadeira, um hospital
ao lado de outro, uma rodoviária em cima da outra. Obras eleitorais explodirão
neste governo como resultado da cooptação da Câmara.
E o vírus da pandemia sob dezenas de novas cepas.
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