Ainda
na pior fase, país tem 2 mil mortes por dia e deixou de agir para matar a
doença
Estamos
cansados de distanciamento, de medo de perder o emprego ou o negócio, de
mortes. Há sempre um escândalo ou ultraje novo que abafa o horror ou a mutreta
da semana passada. O conjunto da ruína soterra no esquecimento outros
desastres. Quem ainda se comove com o desmatamento crescente, “recorde”, da
Amazônia? Assim é também com as mortes de Covid e a vacinação lenta.
A
epidemia está em um nível de morticínio que, até a metade de março, era o
recorde e causava escândalo, provocava
panelaço e incentivou a instalação
da CPI. São ainda mais de 2.000 mortes notificadas por dia no Brasil. A
estatística funérea caiu bastante desde o pico do horror (meados de abril), uns
33%. Mas, no ritmo em que vamos, ainda em meados de junho teremos mil mortes por
dia, como em janeiro, que por sua vez contava o dobro do número de mortes de
novembro, no entanto.
E
daí?
Não sabemos se o número de mortes vai continuar caindo nesse ritmo já lento. Faz cerca de duas semanas, o número de novas internações por Covid em UTIs no Estado de São Paulo está praticamente estável (em torno de 2.235 por dia, muito acima da média de 1.500 por ainda de fevereiro).
Pode
ser que a “fila esteja andando”. No último auge da epidemia, muitos doentes não
conseguiam leitos de terapia intensiva, agora mais disponíveis. Ou seja, o
número de internados e, pois, de doentes muito graves era subestimado e agora
pode estar superestimado. Mas não sabemos.
Ainda
estamos na pior fase da epidemia, que começou em meados de março. Ajuda ou
deveria ajudar a nos lembrar que não foi adotada nenhuma das grandes
providências para conter o morticínio. O tal “comitê
nacional” de Jair Bolsonaro e seus cúmplices no Congresso, sobre o que
houve tanta fanfarra, era uma farsa. Não houve aceleração na oferta de vacinas
—é bem provável que neste maio tenhamos mais doses do que em abril, mas junho é
uma incógnita tétrica.
Boa
parte da economia (negócios
de alimentação, entretenimento, turismo) não voltará a funcionar em parte ou
totalmente (espetáculos, feiras de negócios) enquanto não se controlar a
epidemia, está todo mundo também cansado de saber. Adianta fazer o alerta? Cada
vez menos. A inação fundamental continua.
A
CPI é necessária para responsabilizar política e criminalmente o governo
Bolsonaro, mas não tem como resolver o problema prático. A ação depende de
planos nacionais de pesquisa, rastreamento, testagem, de contenção de
circulação de pessoas e até de barreira contra a entrada de novas variantes.
Ninguém aguenta mais ouvir falar disso, mas nada disso foi feito nacionalmente.
A
epidemia vai definhar por si mesma, com ajuda de vacinas, se não aparecer
variante assassina nova. Embora não se saiba precisamente quanto, os infectados
ficam imunes; a metade adulta do país deve estar vacinada até fins de julho —o
vírus vai matar menos por esgotamento, pois. Até lá devem morrer mais 125 mil
pessoas, por baixo. Lembram de quando o país chegou com horror a 100 mil
mortes, em agosto de 2020?
Não se sabe se vai ter consequência o escândalo do orçamento “Bolsolão”, revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo. Em breve, talvez nesta semana mesmo, teremos o escândalo do desmonte da lei de licenciamento ambiental, que está para ser votada por estes dias. Daqui a mais um pouco, pode passar a lei da grilagem, presente para os amigos de Bolsonaro. Ah, já estamos esquecendo da matança do Jacarezinho, “tudo bandido”, né? Quando voltarmos a mil mortes de Covid por dia talvez se faça uma festa pela “volta à normalidade”.
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