Um
assessor parlamentar deposita R$ 89 mil na conta da primeira-dama. Quando a
história vem à tona, o presidente diz que o dinheiro era para ele. Ao ser
questionado sobre o motivo dos cheques, o político se descontrola. Fecha a
cara, solta palavrões e ameaça agredir o jornalista com um soco na boca.
A
pergunta do repórter do GLOBO ganhou as redes sociais: “Presidente, por que sua
esposa, Michelle, recebeu R$ 89 mil de Fabrício Queiroz?”. Nove meses depois, Jair
Bolsonaro ainda não se dignou a respondê-la. Se depender da Procuradoria-Geral
da República, continuará em confortável silêncio.
Na segunda-feira, o procurador Augusto Aras rejeitou abrir inquérito sobre o caso. Ele afirmou ao Supremo que não vê “lastro probatório mínimo” contra o capitão. O parecer contrariou o advogado Ricardo Bretanha Schmidt, autor do pedido de investigação. “Quando se trata do presidente, a PGR nunca tem disposição de elucidar os fatos”, protesta.
Desde
que foi nomeado por Bolsonaro, Aras se comporta como um aliado do governo.
Virou o novo engavetador-geral da República, título inaugurado por Geraldo
Brindeiro na Era FH. O procurador já arquivou múltiplas representações contra o
presidente. Entre outras coisas, recusou-se a investigar os desmandos na
pandemia e o uso da Lei de Segurança Nacional contra opositores.
Em
janeiro, a submissão de Aras ao Planalto tirou seus colegas do sério. Numa
cobrança pública, seis integrantes do Conselho Superior do Ministério Público
escreveram que ele “precisa cumprir o seu papel de defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e de titular da persecução penal”. Em outra frente, a
Associação Nacional dos Procuradores da República afirmou que “a sociedade
brasileira não admite omissão neste momento”.
A fidelidade de Aras a Bolsonaro tinha um motivo conhecido: ele sonhava ser nomeado ministro do Supremo. Como o capitão prometeu a vaga a um jurista “terrivelmente evangélico”, o procurador teve que mudar os planos. Virou candidato a um segundo mandato na PGR. Em 2019, ele convenceu o presidente a nomeá-lo fora da lista tríplice. Agora está em campanha para repetir a dose em setembro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário