Depoimento
mostra que presidente não consegue controlar estragos da investigação
Antônio
Barra Torres se diz amigo de Jair
Bolsonaro. Nos primeiros meses da pandemia, o presidente da Anvisa
frequentava o Palácio da Alvorada e aconselhava um presidente que já fazia
questão de minimizar os riscos daquela crise. Agora, com o país mergulhado na
tragédia, ele reconheceu que o governo levou o país pelo caminho errado.
O depoimento de Barra Torres à CPI da Covid escancara a conduta destrutiva de Bolsonaro. A comissão já esperava colher depoimentos incômodos para o presidente entre seus desafetos, como o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, mas nem mesmo um amigo foi capaz de acobertar o estrago feito até aqui.
Indicado
por Bolsonaro para o comando da Anvisa, o contra-almirante disse que as
declarações feitas pelo presidente sobre a vacinação vão “contra tudo” o que a
agência defende. “Discordar de vacina, falar contra vacina não guarda uma
razoabilidade histórica”, afirmou. “Eu penso que a população não deva se
orientar por condutas dessa maneira.”
Barra
Torres tem mandato na Anvisa até 2024. A estabilidade no cargo deve ter
garantido tranquilidade para que ele entregasse os delitos do presidente. No
depoimento, o contra-almirante disse, sem meias palavras, que a cloroquina não
funciona contra a Covid-19 e confirmou que o Palácio do Planalto sediou uma
reunião para tentar adequar a bula do remédio aos delírios de Bolsonaro.
Embora
tenha participado de uma manifestação ao lado do
presidente quando o coronavírus já circulava no país, Barra
Torres criticou o incentivo a aglomerações. “[Apesar] da amizade que tenho, a
conduta do presidente difere da minha nesse sentido”, declarou. “Não tem nenhum
sentido do ponto de vista sanitário.”
O depoimento do amigo de Bolsonaro mostrou que o governo vai ter dificuldades para controlar os estragos que podem ser produzidos pela CPI. O futuro do presidente depende cada vez mais de puxa-sacos como Eduardo Pazuello e de uma tropa de choque bem alimentada formada por políticos do centrão.
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