Terminou
mal a aventura de Wilson Witzel, o Breve. O ex-juiz experimentou uma ascensão
meteórica na política. Em poucas semanas, passou de candidato nanico a
governador eleito do Rio. Depois de um ano e oito meses no poder, ele foi
afastado sob suspeita de corrupção. Na sexta-feira, teve o mandato cassado em
definitivo.
Witzel
se tornou uma unanimidade ambulante. Em junho de 2020, a Assembleia Legislativa
aprovou a abertura do processo de impeachment por 69 votos a 0. Em setembro,
repetiu o placar para ejetá-lo da cadeira. Varrido do palácio, ele passou a ser
julgado por um tribunal misto. Desembargadores e deputados também concordaram
no veredicto: 10 a 0 a favor da cassação.
No início do ano, o governador havia sido derrotado em outra votação unânime. Por 13 a 0, os ministros do Superior Tribunal de Justiça aceitaram denúncia que o acusa de desvios na saúde. Numa inversão de papéis, o ex-juiz virou réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Witzel
foi um fenômeno típico das eleições de 2018. Com discurso moralista, vestiu-se
de verde e amarelo e surfou a onda conservadora que consagrou Jair Bolsonaro.
No último debate na TV, ele demonizou a política e descreveu sua campanha como
“uma luta do bem contra o mal”. “Sou um cidadão como você: indignado. Indignado
com tanta corrupção”, bradou.
Deslumbrado
com o poder, o ex-juiz nunca se preocupou em nomear bons secretários ou montar
uma base de apoio na Assembleia. Também não disfarçou a intenção de usar o
governo do Rio como um trampolim para concorrer ao Planalto. A soberba cobraria
um preço alto. Quando caiu em desgraça, ele não encontrou ninguém para
defendê-lo.
Apesar
do isolamento, o governador manteve a empáfia até o fim. No dia da votação na
Alerj, comparou-se a Tiradentes e Jesus Cristo. Na sexta-feira, descreveu o
tribunal do impeachment como uma sucursal do Estado Islâmico. “Hoje não sou eu
que sou cassado, é o Estado democrático de direito”, delirou.
O
caso de Witzel evidencia o risco de entregar o poder a aventureiros. Sem
passado na política, o ex-juiz se limitou a dizer que era diferente de tudo o
que estava aí. A retórica seduziu quase cinco milhões de eleitores, que
entregaram o Palácio Guanabara a um ilustre desconhecido.
Os
desvios na saúde não são a única herança maldita do governador cassado. Ele
deixa em seu lugar outro político sob investigação, que também foi alvo de
buscas da PF. No fim de março, Cláudio Castro ofereceu mais um cartão de
visitas. Dois dias depois de pedir que a população evitasse aglomerações,
promoveu uma festa para celebrar o próprio aniversário.
Desde que assumiu o poder, o novo governador se comporta como um súdito da família Bolsonaro. Na ânsia de agradar o capitão, já chegou a desautorizar medidas de distanciamento social. Em entrevista à revista “Veja”, o dublê de político e cantor gospel explicou como foi parar na chapa de Witzel. “Virei vice porque não tinha outro”, admitiu.
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