Ministro
nada sabe sobre política pública e vive de fantasia caricata reacionária
“Pobre? Está doente? Dá um voucher para ele.
Quer ir no Einstein? Vai no Einstein. Quer ir no SUS, pode usar seu voucher
onde quiser”, disse Paulo
Guedes em seu mais recente surto de ignorância e horror
a pobre.
Estritamente
falando, um voucher é um vale, como um vale-refeição. No desvario de Guedes,
“um pobre” receberia um vale-saúde para se tratar onde quisesse, no SUS ou no
Einstein, um dos grandes e excelentes hospitais privados de São Paulo. Nem
Guedes deve acreditar estritamente nessa idiotice. Mas argumente-se por absurdo
e a favor do ministro.
O
setor público gasta por ano 3,9% do PIB
em saúde (na média trienal até 2017, do IBGE, ou até 2018, da OMS).
Equivale a uns R$ 1.380 por pessoa, R$ 115 por mês. Dá para pagar um plano de
saúde dos mais baratos, sem contar coparticipação, com serviço inferior ao do
SUS. Daria um pouco mais por pessoa caso o dinheiro todo fosse reservado para
quem ora não tem plano de saúde (71,5% da população, segundo o IBGE).
O vale-plano-de-saúde não daria para escolher o Einstein, ocioso ressaltar, nem o SUS. Não haveria mais SUS. O dinheiro da saúde pública teria sido confiscado pelo vale-guedes. Não haveria mais serviço público de vacina, de emergência (ambulância, PS), remédio, exame, nada. Se o seu plano baratinho não cobrisse certos tratamentos ou se você se arrebentasse em um local descoberto (quase todos), que você pagasse ou morresse.
Obviamente
esse argumento é louco, simplificação da mais grosseira.
Serve apenas para sugerir que a coisa não funciona assim, aqui ou alhures.
O
gasto em saúde no Brasil já é majoritariamente privado (famílias, empresas,
filantropia): 58% do total. Não é assim na Argentina (38%) ou no México
(48,7%), menos ainda é o caso de França (27%), Reino Unido (21%) ou Alemanha
(22%) e nem mesmo o do Chile (49,7%) e o dos EUA (49,6%). Na mão de um Guedes da
vida (ou da morte) iremos na direção dos EUA, que tem um dos gastos em saúde
mais ineficientes da OCDE (clube de três dúzias de países ricos).
Mas,
afora para ricos, e olhe lá, o SUS é o recurso de primeira ou última instância,
que banca tratamentos que muito plano não cobre, por falta de dinheiro ou
competência. O SUS é uma rara preciosidade nacional, com problemas de
administração, sim, mas não é conversa para o bico de Guedes.
O
problema aqui é Guedes e seu mundo de caricaturas reacionárias. Não trata de
assuntos de modo técnico: adora dar aulas magnas genéricas baseadas em suas
fantasias liberalóides apodrecidas. Não propõe políticas públicas específicas e
fundamentadas, com planos e apoio político para implementá-las.
Vive
de tiradas, truques com os quais pensa engambelar o Congresso e mentiras
lunáticas (trilhão de privatização, 44 milhões de testes de Covid, déficit
público zero em um ano etc.). Adora velhos mitos extremistas da direita
americana e tem saudade do Chile de Pinochet.
Essa barbaridade guedista, variação pedante do bolsonarismo dá mais pano para a manga. Vamos voltar a tratar disso.
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