Com Bolsonaro e ministros ocupados com a CPI, sociedade, STF e Congresso reagem às “boiadas
A lógica se inverteu. Não é mais o governo que aproveita a “distração” do Brasil e da mídia com a pandemia e os já mais de 400 mil mortos para passar suas “boiadas”. Agora, são o Supremo, o Congresso e a sociedade que se unem para resistir às “boiadas” governistas, enquanto o presidente Jair Bolsonaro, seus ministros e assessores estão muito ocupados com a CPI da Covid.
Um
bom exemplo é o próprio meio ambiente. Foi o ministro Ricardo Salles quem
avisou, naquela reunião ministerial histórica, que o governo estava
aproveitando a pandemia para passar a “boiada” e pisotear o Ibama, o ICMBio, a
legislação ambiental e, portanto, toda a estrutura de fiscalização e
acompanhamento de florestas, rios, santuários. Mas a resistência cresce, e é
sólida.
O delegado Alexandre Saraiva foi afastado da PF no Amazonas ao denunciar Salles por se aliar a madeireiros ilegais e, em vez de proteger a Amazônia, operar para destruí-la. Com essa denúncia, mais as ações de Ministério Público, ex-ministros, ONGs e entidades contra Salles e a política ambiental, a oposição colhe assinaturas para uma nova CPI, a do Meio Ambiente, na Câmara. Pode não ser inteligente, porque divide os holofotes da CPI da Covid, no Senado. Mas mobiliza.
Como
há “fatos determinantes” abundantes para a da covid, também não faltam para uma
eventual CPI do Meio Ambiente. Há montes de cinzas, madeira ilegal, dados e
evidências de destruição. Aliás, Bolsonaro anunciou na cúpula do clima que
estava dobrando os recursos para a fiscalização ambiental. No dia seguinte,
veio o anúncio do Orçamento da União com cortes de R$ 240 milhões exatamente
aí.
Funcionários
do setor denunciaram “o colapso da gestão ambiental”, mas o desmanche não se
resume a Ibama e ICMBio, resvalando para o Inpe. Nem a reação a ele. Sete
ex-ministros da Educação, por exemplo, lançaram manifesto a favor do Inep, que
cuida de Enem (ensino médio) e Ideb (ensino básico). Segundo eles, “o Inep está
gravemente enfraquecido e isso coloca em risco políticas públicas cruciais”.
O
que dizer da Cultura, que já teve secretário de alma nazista, mantém um negro
racista na Fundação Palmares, persegue os ícones do teatro (como Fernanda
Montenegro) e da música (como Chico Buarque), além de investir contra a Ancine
e o Conselho Superior do Cinema?
E,
por falar em “risco a políticas públicas cruciais”, ainda não está claro quem e
por que, efetivamente, impediu o Censo de 2021. O IBGE pediu R$ 2 bilhões,
Congresso destinou R$ 71 milhões e, com o corte do Planalto, sobraram R$ 58
milhões. Sem dinheiro, sem Censo. Sem Censo, como avaliar e planejar o País?
Será que Bolsonaro temia a foto do “seu” Brasil na campanha à reeleição?
Na
política externa, o chanceler Ernesto Araújo caiu, mas os escombros se espalham
por toda parte, na forma de má vontade com insumos das vacinas, críticas de
governos, parlamentos, entidades, sociedades. Até integrantes do Parlamento
Europeu condenaram o “negacionismo” e a “necropolítica”, ou “política da
morte”, no Brasil.
E
na economia? O ministro Paulo Guedes não caiu, mas não sobra pedra sobre pedra
de sua equipe, seus planos, suas reformas e seus propósitos liberais. E não por
culpa da esquerda, da oposição ou da mídia, e não adianta dizer que foi por
causa do Congresso. Quem não assume, e inclusive sabota, a política de Guedes
é... Jair Bolsonaro.
Agora, o presidente só pensa em soterrar a CPI da Covid, mas continua em campanha por aí e proibindo máscaras, álcool em gel e – pelo que se deduz da revelação do general Luiz Eduardo Ramos – até vacinas. Enquanto isso, as boiadas enfrentam cada vez mais resistência. A turma dos atos golpistas insiste em defender o indefensável, mas a reação é firme e só aumenta.
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