Caio
Sartori e Gustavo Porto/ O Estado de S. Paulo
RIO
e BRASÍLIA – O prefeito do Rio, Eduardo
Paes (DEM), está convicto de que o governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite (PSDB), é o melhor nome para concorrer à
Presidência em 2022. “Tem experiência, capacidade, é da política. Não quero um
CEO para o Brasil, quero alguém com capacidade política para liderar o País, a
transformação”, disse em entrevista ao Papo Com o Editor, do Broadcast
Político/Estadão. A tendência é que o prefeito migre para o PSD, apesar de ainda não ter
confirmado oficialmente a informação.
Apesar
disso, o carioca elogia outros nomes de oposição ao presidente Jair
Bolsonaro, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem manteve relação
próxima durante seus mandatos anteriores. Os dois chegaram a protagonizar um
áudio vazado pela Lava Jato no qual demonstravam intimidade – foi nele que o
prefeito chamou a cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio, de “merda
de lugar”. O PT compunha os governos anteriores de Paes e chegou a ter o
vice-prefeito na segunda gestão, entre 2013 e 2016.
“Acho que o presidente Lula é nome fortíssimo na disputa. Tive o prazer de governar com ele. Era um momento muito diferente, havia uma visão federativa do Brasil em que municípios e Estados tinham protagonismo na implantação de políticas públicas”, apontou.
“Vejo com muita simpatia a candidatura dele. Não me parece um movimento simples um eventual apoio no primeiro turno à candidatura, mas goza com minha simpatia, é bom nome. Tem demonstrado maturidade na construção de consenso e que não está amargurado, com ódio, apesar de ter todos os motivos para isso.”
Outro
ponto abordado na entrevista foi a CPI da Covid,
cujos trabalhos começaram nesta semana no Senado. Paes alega que “está muito
claro” que houve equívocos do governo federal na condução da pandemia – o que
justifica a tentativa de Bolsonaro de tentar frear a comissão ou de desviar o
foco para Estados e municípios. Nos últimos quatro meses, diz Paes, o Rio não
recebeu recursos federais para o combate ao coronavírus, o que só colocaria o
ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) no foco de eventuais
apurações.
“Nenhum
chefe de Executivo gosta de CPI, principalmente quando cometemos erros. Até
entendi a posição do presidente Bolsonaro de não querer a CPI. Está muito claro
que houve um conjunto de equívocos cometidos pelo governo federal. Deve gerar
um nível de estresse no governo, e a estratégia política deles é diluir essa
tensão. Não me parece que vai ser bem sucedida”, disse.
Para
o prefeito do Rio, Bolsonaro deveria conduzir e liderar o Brasil politicamente,
mas isso é algo que, “pela própria personalidade”, o presidente tem tido
dificuldade de fazer.
No
Rio, prefeito defende frente ampla
A
citada dificuldade para um eventual apoio a Lula no primeiro turno não impacta
a forma como Paes encara a eleição fluminense. Após seguidas crises políticas e
econômicas, a situação do Estado tem motivado conversas entre o grupo do
político do prefeito e do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
com a esquerda. No âmbito local, o mandatário defende que haja uma aliança
ampla – com direito a uma espécie de “palanque múltiplo” para os
presidenciáveis cujos partidos estiverem abarcados pela frente.
“Defendo
que esse candidato tenha no palanque dele todos os candidatos a presidente
dessa frente de reconstrução do Rio”, disse. A ideia de reconstrução, segundo
ele, está calcada no fato de o Estado viver uma situação ainda pior que a do
País. O “consenso mínimo” entre essas forças políticas que hoje conversam
incluiria temas como a ética, a Segurança Pública e a retomada do protagonismo
econômico do Rio.
O
nome que Paes coloca nas conversas é o do advogado Felipe Santa Cruz,
presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
cujo futuro político será definido a partir dos movimentos do prefeito, seu amigo
de longa data. O mandatário, contudo, também elogia o deputado Marcelo Freixo
(PSOLRJ), hoje o nome de maior recall dentre os que participam das conversas. O
parlamentar de esquerda tem se colocado aberto ao diálogo e à ampliação de
composições, ao contrário do que defende a maioria de seu próprio
partido.
“O
Felipe Santa Cruz é a pessoa que vou apoiar e colocar nessa frente ampla. Mas é
óbvio que, se quero discutir uma frente ampla, não posso dizer que esse é meu
nome e não aceito discutir”, observou.
Na
entrevista, ele também comentou sobre a situação do DEM, dividido desde a
eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro. Um dos maiores aliados de
Paes na política, Maia rompeu com o presidente da sigla, o ex-prefeito de
Salvador ACM Neto, após o partido abandonar o candidato Baleia Rossi (MDB-SP)
na disputa. Para Paes, ainda seria possível buscar uma solução interna na
legenda – mas, se não der, a decisão que Maia tomar terá seu endosso. O
prefeito o chama até de “senhor estabilidade”.
“Não
há a possibilidade do deputado Rodrigo Maia fazer qualquer movimento sem estar
me liderando nesse processo; de tomar uma decisão que seja diferente da minha”,
afirmou. “É ele quem vai falar nacionalmente em nome do prefeito do Rio de
Janeiro.”
Pouco depois da entrevista, saiu a informação de que Paes migraria para o PSD, partido liderado pelo ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab. O carioca ainda não confirma a informação oficialmente, mas a tendência é que, caso saia mesmo do DEM, ele leve consigo outros nomes de seu grupo político.
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