-
O Globo
Na
véspera da recente Cúpula do Clima, o presidente americano, Joe Biden,
apresentou um plano preconizando investimentos de US$ 2,3 trilhões, centrado na
reconstrução da infraestrutura americana, em bases que definiu como um esforço
transformacional que poderia criar “a mais resiliente e inovadora economia do
mundo”.
O catálogo de medidas é imenso, como reconstrução de rodovias, pontes, reforma de aeroportos, substituição da canalização de chumbo no suprimento de água e diversas outras ações voltadas à criação de milhões de empregos em curto período de tempo e a incrementar a competitividade da economia americana no longo prazo. Biden fez questão de ressaltar a transversalidade da questão do aquecimento global em todas as medidas propostas. Num planeta mais aquecido, tais transformações levariam a grandes avanços em pesquisa de tecnologias limpas e à melhoria da eficiência energética global.
O
que se pode chamar de doutrina Biden traz de volta a relevância do papel do
Estado como agente estimulador das políticas e ações de desenvolvimento
econômico no enfrentamento dos impactos do aquecimento global, uma espécie de
remake do capitalismo americano.
Simplificando,
a descarbonização com a necessidade de geração de empregos associados a essa
nova economia.
E
mais, caminhamos para a economia digitalizada e eletrificada, onde as fontes
renováveis de energia exercerão um papel central no processo de transformação e
de definição da economia do futuro. Um futuro hoje.
A
transição energética, termo à la mode, assumiu uma velocidade em rápida
aceleração na conjunção aquecimento global e pandemia. E a nova e agressiva
postura do governo americano incorpora a dimensão ambiental como uma das
principais ferramentas de desenvolvimento e semeadura de uma nova economia,
onde retóricas até pouco tempo atrás e pejorativamente consideradas poéticas
passam não só a liderar as tomadas de decisão, como se transformam no vetor do
que se almeja ser um século XXI de forte desenvolvimento. Por analogia, impacto
tão significativo como foi a predominância do petróleo no século XX.
No
Brasil, ao menos no curto prazo, não podemos esperar uma transformação, mesmo
que retórica, que se alinhe às grandes diretrizes acima descritas. Vivemos um
paradoxo entre sermos potencialmente um dos principais atores dessa
transformação e, ao mesmo tempo, termos um discurso oficial que pouco adere ao
caminho do desenvolvimento moderno e sustentável. Nossa matriz energética, por
circunstâncias históricas, é uma das de menor emissão de gases de efeito
estufa. Nosso parque de geração hídrica e o etanol se desenvolveram dadas as
condições naturais e conjunturais em sua origem, e não por políticas voltadas à
preservação ambiental.
Hoje,
o Brasil se encaixa entre os melhores candidatos ao prêmio de protagonista em
relação a um futuro sustentável em termos de emissões decorrentes da produção e
uso de energia. Nosso desafio será planejar diante de um cenário de grande
diversidade de possibilidades. Nossa matriz elétrica se expande a partir de
fontes renováveis cada vez mais competitivas, especialmente as energias eólica
e solar. E, em futuro muito próximo, o hidrogênio verde, produto da eletrólise
da água utilizando a eletricidade gerada a partir de fontes renováveis.
Devemos
ter em mente que o caminho da infraestrutura e as fontes renováveis de energia
deverão ser os alavancadores do desenvolvimento brasileiro do século XXI,
especialmente quanto à geração de empregos e ao desenvolvimento de novas
tecnologias. O que chamamos de transição energética para uma economia de baixo carbono
é uma extraordinária oportunidade para um novo e moderno futuro para o Brasil.
*Professor do Instituto de Energia da PUC-RJ e foi secretário de Energia de São Paulo e diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo
Nenhum comentário:
Postar um comentário