Folha de S. Paulo
Bilhões
para o fundo eleitoral são alerta de mutreta na reforma política e coisa pior
A “nova
política” está por toda parte. Chegou ao poder federal com
Jair Bolsonaro (“sem partido!”) e ao governo de vários estados, como o Rio de
Janeiro de Wilson Witzel,
que pelo menos já foi para a cadeia.
Neste
ano, os “homens novos” assumiram de vez o comando da Câmara, com Arthur Lira
(PP-AL), cúmplice maior do presidente, seu premiê e regente da
avacalhação nacional. Esse casamento de inconveniência acaba por gerar uma
cambulhada de indignidades, tal como o golpe do fundão eleitoral.
Lira
foi eleito com a promessa
de dar poder “às bases”, ao baixo clero. Mais poder, na verdade,
pois essa turma se tornou cada vez mais proeminente, predominante e poderosa
com a multiplicação de partidos negocistas (a partir de 2007, também com a
ajuda do STF) e com a degradação decisiva da Presidência da República.
Essa
rebelião das massas parece agora desembestada. O aumento do fundo eleitoral de
R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7 bilhões em 2022 é apenas um sintoma, embora caríssimo
(o dinheiro extra equivale a 11% do Bolsa Família).
A dinheirama estimula o empreendedorismo partidário e dá mais poder aos empresários das legendas de aluguel (quase todas das três dúzias), o que incentiva ainda mais a fragmentação partidária, em um efeito bola de lama.
Com
tamanho fundão eleitoral e partidário à disposição, por que não abrir a sua
franquia e até mesmo alugar a cobertura para um candidato a presidente? Pode
dar rolo, com aconteceu entre o dono do PSL e os Bolsonaro. Mas isso é da vida,
certo? Negócios têm algum risco, bem o sabiam os piratas que dividem butim.
Os
parlamentares avançam sobre a definição do Orçamento como hienas, pois o fazem
por meio de emendas picadinhas, obrigatórias e pouco transparentes, em vez de
também redefinirem grandes prioridades de despesa. No ano que vem, essa mumunha
vai continuar, a julgar pelo que está escrito na Lei de Diretrizes
Orçamentárias, aprovada nesta quinta-feira (15).
Os
apaniguados de Lira também preparam uma reforma política ou eleitoral que pode
perverter ainda mais o sistema partidário. Pretende-se dar uma avacalhada nas
cláusulas de barreira (exigência de votação ou conquista mínima de cadeiras
para que o partido tenha certas regalias).
Discute-se
até a criação do distritão (os votos vão só para os candidatos, não para
partidos), com o que as eleições parlamentares vão se tornar uma corrida de
celebridades, ricos e representantes do crime (do crime não regulamentado, quer
dizer, como facções e milícias).
O
empresário partidário, porém, continuaria com o poder de alugar cômodos, ceder
vaga na legenda para essa dança dos famosos eleitoral. Se ninguém prestar
atenção, vai ser aprovada uma mixórdia sórdida, como era de prever com a
chegada ao poder da “nova política”, esse projeto de ruína final do país.
O
pacote de jabutis gordos que passou na lei de privatização da Eletrobras e a
palhaçada dinheirista que foi a votação do Orçamento de 2021 são outros
exemplos da degradação. Não há liderança maior, poderosa e com vergonha na cara
para conter a farra.
O
governo Bolsonaro não tem projeto político e líderes para negociar um programa
legislativo. Não é mesmo capaz de propor projetos com um mínimo de competência
técnica e compostura —considere-se o papelucho bisonho que Paulo Guedes quis
passar como “reforma do IR”.
Quanto
ao Congresso, Bolsonaro apenas arrumou um centrão para chamar de seu e evitar o
impeachment. Em troca, Lira e sua turma entregam umas “reformas” mambembes e
ficam à vontade para tocar a balbúrdia, para não dizer outra coisa.
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