Correio Braziliense / Estado de Minas
Bolsonaro escala a crise como STF e aposta na deterioração das
relações entre os Poderes. Ameaça dar um golpe de Estado
Riobaldo, o jagunço de Grande Sertão Veredas,
a odisseia cabocla de Guimarães Rosa, dizia que “viver é muito perigoso”. Em
agosto, na política, mais ainda. Para os políticos, com certa razão, trata-se
de um mês aziago, porque crises e tragédias ocorreram nesta época do ano.
“Comandante supremo das Forças Armadas”, como agora gosta de se apresentar, o
presidente Jair Bolsonaro escala a crise com o Supremo Tribunal Federal (STF) e
aposta na deterioração das relações entre os Poderes, com o claro propósito de
impedir a realização das eleições, nas quais pode ser derrotado pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ameaça dar um golpe de Estado.
Tudo pode acontecer em agosto. Em 1954, após voltar ao poder pelo voto, Getúlio Vargas sofria com pressões do Congresso. A oposição mais radical era da UDN, liderada por Carlos Lacerda, que sofreu um atentado na Rua dos Toneleiros, no Rio de Janeiro, no qual faleceu o major da Aeronáutica Rubens Vaz; Lacerda foi ferido na perna. As investigações apontaram Gregório Fortunato, chefe da guarda presidencial, como autor do crime. A situação se tornou insustentável. Getúlio acabou cometendo suicídio, com um tiro no peito, na madrugada de 24 de agosto.
Jânio Quadros presidia o Brasil desde
janeiro de 1961. Surpreendentemente, aproximou-se da antiga União Soviética e
da China. Em plena guerra fria, condecorou Che Guevara, um dos líderes da
Revolução Cubana, com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Carlos Lacerda, líder da UDN,
passou à oposição. Sete meses depois de assumir, em 25 de agosto de 1961, Jânio
renunciou. Imaginava voltar nos braços do povo; quem assumiu foi seu vice, João
Goulart.
Em 1969, o general Costa e Silva teve uma
trombose cerebral, no final de agosto. O vice-presidente, Pedro Aleixo, um
civil, foi impedido de assumir a Presidência por uma Junta Militar, que
governou o país até 30 de outubro, quando assumiu o general Emílio Médici.
Costa e Silva faleceu em dezembro.
O ex-presidente Juscelino Kubitschek morreu
em um acidente de carro em 22 de agosto de 1976; seu motorista, Geraldo
Ribeiro, também. O veículo colidiu com um caminhão, na rodovia Rio-São Paulo. A
Comissão Nacional da Verdade concluiu que sua morte foi um acidente ocasional.
Depois da entrevista de seu irmão Pedro
Collor à revista Veja, denunciando um esquema de lavagem de dinheiro no
exterior co- mandado por PC Farias, o Congresso Nacional criou uma CPI para
investigar as denúncias contra o presidente Fernando Collor de Mello. Foram
descobertos empréstimos fraudulentos e contas suspeitas. O famoso Fiat Elba foi
comprado com esse dinheiro. Collor convocou uma manifestação verde-amarela para
16 de agosto. A população foi às ruas vestida de preto. A CPI confirmou a transferência
irregular de US$ 6,5 milhões para financiar gastos do presidente. Collor
derreteu: em setembro, foi afastado; em dezembro, renunciou ao cargo.
Ruptura institucional
Candidato à Presidência da República em 2014, o ex-governador de Pernambuco
Eduardo Campos decolava nas pesquisas de opinião. Em 13 de agosto daquele ano,
morreu após a queda do jato particular em que viajava. O avião havia decolado
do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto do
Guarujá (SP). Sete pessoas faleceram.
Por causa das chamadas “pedaladas fiscais”
e decretos de abertura de crédito sem a autorização do Congresso, o processo de
impeachment da presidente Dilma Rousseff foi aberto pela Câmara dos Deputados
em abril de 2016, decisão confirmada pelos senadores em maio. Em 29 de agosto,
Dilma Rousseff compareceu ao Congresso para se defender. Dois dias depois, os
senadores aprovaram seu impeachment por 61 votos favoráveis e 20 contrários.
Ontem, Bolsonaro participou de uma
cerimônia na Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Rezende (RJ).
Escreveu no Twitter: “Todos sabem das consequências, internas e externas, de
uma ruptura institucional, a qual não provocamos ou desejamos. De há muito, os
ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal
Federal, extrapolam com atos os limites constitucionais. Na próxima semana,
levarei ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido para que instaure
um processo sobre ambos, de acordo com o art. 52 da Constituição Federal”.
Agosto está só começando; a crise está em marcha.
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