O Estado de S. Paulo
Bolsonaro e as fake news: mortes, urnas, cloroquina, vacina, máscara, isolamento...
O presidente da República, Jair Messias Bolsonaro,
anunciou para o povo brasileiro um “documento do tal do Tribunal de Contas da
União”, o TCU, concluindo que os números de mortes pela covid-19 não chegavam à
metade e teriam sido fraudados pelos governadores para abocanhar mais verbas na
pandemia. A verdadeira e chocante fraude, porém, foi a fala do presidente, o
rei das fake news.
Em depoimento à Polícia Federal, o funcionário do tribunal Alexandre Marques, autor do “documento”, contou a verdade nua e crua: o texto não era “do tal do TCU”, era só uma espécie de rascunho pessoal e foi adulterado na Presidência da República, porque o original não tinha o logotipo do TCU, nem nome, nem cabeçalho, como o que foi espalhado pelos bolsonaristas via internet. Gravíssimo.
“Fiquei totalmente indignado e achei uma total irresponsabilidade do mandatário da Nação”, disse Marques à PF sobre o pronunciamento do presidente. Conforme o depoimento, divulgado pela TV Globo, foi o seu pai, militar da reserva e contratado da Petrobrás, quem repassou o rascunho para o presidente. Que, como se viu, não pensou duas vezes antes de fazer uso político dele.
O mesmo Bolsonaro usou a TV e recursos
públicos durante duas
horas para anunciar uma “prova bomba” contra as urnas
eletrônicas. Não apresentou prova nenhuma, só um apanhado velho e irrelevante
da internet, e passou a ser a comprovação viva de que o sistema eleitoral é
sólido e confiável. Ele não só foi eleito por esse sistema como nunca encontrou
uma única prova, apesar de GSI, Abin, PF, inteligência militar...
Aliás, Bolsonaro divulgou um
inquérito da PF pelas redes sociais, como se confirmasse a
existência de fraude em 2018. Segundo a PF, oficialmente, a história é velha,
já foi divulgada pela mídia e “não houve qualquer risco à integridade das
eleições”. O ataque foi ao sistema do TSE, não ao das urnas eletrônicas. Elas
não são conectadas à internet nem passíveis de invasão remota, o que todo
brasileiro minimamente informado e “de boa fé”, como diz o ministro Luís Roberto
Barroso (TSE), está careca de saber.
Bem, Bolsonaro é o único presidente na
história a fazer propaganda de remédio – propaganda enganosa, diga-se – e nega
até hoje isolamento social, máscaras e vacinas contra a pandemia de covid.
Isso, segundo especialistas e a CPI do Senado, pode ter
custado milhares de vidas de brasileiros.
E não podemos esquecer de Bolsonaro falando
aos brasileiros de “uma pesquisa de uma universidade alemã” confirmando que
“máscara faz mal às crianças”. Oh, céus! Tudo doentiamente fake. E ele nega
também o desmatamento da Amazônia, o tamanho do desemprego, as estatísticas e a
realidade.
Foi assim que entrou em choque com OMS,
ONU, Inpe, PF, IBGE, entidades sanitárias, governos e entidades estrangeiras...
E é alvo de
quatro inquéritos no Supremo e mais um inquérito administrativo
no TSE, enquanto não é incluído no das fake news mais uma vez, agora pelo
“documento” sobre as mortes e pelo uso do TCU em vão.
Só falta o presidente Jair Messias
Bolsonaro endossar a fala do general Luiz Eduardo
Ramos sobre o líder trabalhista-integralista Roberto
Jefferson, dois dias antes de a PF pedir sua
prisão. Para Ramos, Jefferson, que aparece armado em vídeos pedindo
o fechamento do STF, é “mais um soldado pela liberdade do nosso povo e da nossa
democracia”. Uau!
Mas o pior não é o presidente Jair Messias Bolsonaro insistir nas suas fake news e ameaçar pedir o impeachment dos ministros Barroso e Alexandre de Moraes. É milhões de pessoas continuarem engolindo, degustando e gostando de suas fake news. Bolsonaro a gente já sabe quem é, o incompreensível é como tantos caem nessa esparrela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário