Folha de S. Paulo
Presidente e aliados plantaram semente da
insurreição no Paraguai e nos EUA
Em sua campanha para melar as próximas
eleições, Jair Bolsonaro insinuou que há envolvimento estrangeiro numa
conspiração fantasiosa para fraudar as urnas eletrônicas no ano que vem.
"Outros países têm interesse em ter gente na Presidência, à frente de governo
de estado, à frente de grandes cidades, pessoas mais simpáticas a esse governo
de fora", declarou, há
cerca de dez dias.
Esses inimigos externos misteriosos são um elemento adicional do discurso batido de que haveria uma trama poderosa para tirar Bolsonaro do cargo. Até agora, no entanto, os únicos personagens que parecem conspirar com atores políticos de outros países são o próprio presidente brasileiro e seus aliados.
Bolsonaro levou o golpismo para uma turnê
internacional. No dia 5, uma semana depois de admitir não
ter provas de fraude nas urnas eletrônicas, ele sugeriu ter
mencionado as falsas suspeitas para o presidente do Paraguai. Para piorar,
disse que Mario Abdo Benítez ofereceu "alguns de seus servidores da
Justiça Eleitoral, com a urna do Paraguai". Alguém deveria avisar ao
brasileiro que nem ele nem governos estrangeiros têm poder para apitar na
organização das eleições por aqui.
Naquela mesma data, o presidente citou as
falsas suspeitas numa reunião com o assessor de Segurança Nacional americano,
Jake Sullivan. O auxiliar de Joe Biden não comprou o besteirol: manifestou preocupação
com a tentativa do governo de desacreditar o sistema de votação e
disse crer que as eleições de 2022 no Brasil serão justas.
Nos últimos dias, o bolsonarismo lançou a
semente da insurreição para personagens marginais da política dos EUA. Num
evento organizado pelo estrategista Steve Bannon e pelo empresário Mike
Lindell, Eduardo Bolsonaro repetiu a ladainha do pai e foi aplaudido pelos
trumpistas.
O presidente e sua turma já começaram a
preparar o terreno internacional para contestar uma eventual derrota nas urnas
em 2022. A sorte é que nenhum governo sério vai apoiar a aventura golpista de
Bolsonaro.
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