Folha de S. Paulo
Funcionamento de parte das instituições exige atenção para os seus efeitos
O funcionamento, afinal, de parte das
instituições em defesa da Constituição e do regime vigente exige atenção para
os seus efeitos. São contrapostos. E não há clareza alguma sobre o que daí
resultará.
Longe de ser “questão encerrada”, a
combinação urna eletrônica/fraude está encaminhada para ser um dos temas mais
explosivos na disputa eleitoral.
Para dizer tudo, na conturbação que
Bolsonaro estará apto a promover, para arruinar a eleição ou, diz a gíria, para
tentar vencer na marra.
Essa probabilidade dramática só decairá,
pode-se presumir, caso não emerjam desfechos fortes para fatos já em andamento
ou erupção nova, com capacidade de esvaziar o bolsonarismo.
Mas, tudo sugere, a eleição presidencial de
2022 encaminha-se para ser muito perigosa. Em numerosos sentidos, inclusive
para a população.
As decisões judiciais que Bolsonaro personifica nos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes são o desassombro esperado da Justiça contra o ataque do golpismo, da mão armada, da morte perversa, da mentira e da corrupção.
Apesar disso, aumentam os riscos de mais e
maior criminalidade, em aposta redobrada.
A prisão do
marginal Roberto Jefferson logo provocou o medo raivoso, que
apela às boçalidades.
Convém realçar, neste sentido, a ida de
Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos, não para visitar o ídolo Trump, como
noticiado. Por certo, para contatos orientadores e busca de apoio no que há de
pior entre os trumpistas.
Estamos em uma inversão na dependência do
regime democrático: das instituições para os cidadãos, como indivíduos e por
suas organizações.
O futuro do atual regime passa a depender
do apoio efetivo, e talvez urgente, às ações reativas que interrompem, em
parte, o ciclo das omissões. O lado da legalidade recebeu das instituições a
iniciativa que lhes era cobrada. A retribuição —decisiva— está em suas mãos.
Última parada
Joe Biden mandou ao Brasil o assessor de
Segurança Nacional dos EUA e um chefão da CIA. Escolhas sugestivas, não de
diplomatas, como seria entre países que se respeitem. As duas figuras nem
precisariam formular ameaça alguma, chantagem alguma, seus cargos são
eloquentes por si mesmos.
O poder americano quer a instalação do seu
sistema informático 5G instalado no Brasil. E não o chinês.
O 5G é uma revolução assombrosa adiante da nossa internet e de outras
modernidades informáticas.
O sistema americano não está concluído.
Quando estiver, já é dito, ainda não será equivalente ao chinês. Por ora, tem a
vantagem de que os chineses usam chips fabricados nos EUA, mas a China já se
empenha em produção própria.
A decisão brasileira por meio de
concorrência científica e financeira não convém aos americanos. Eles têm
experiência de Brasil: situação idêntica se deu na compra de um sistema de
vigilância da Amazônia, o Sivam, entregue à americana Raytheon em uma
concorrência daquelas, bem brasileira, contra a francesa Thomson.
Então presidente, um alegre Fernando
Henrique contou que telefonara a Bill Clinton para informar o atendimento ao
seu pedido em favor da Raytheon. Hoje os americanos sabem mais da Amazônia
real, e de suas riquezas, do que a soma das entidades brasileiras especializadas
no tema.
A política internacional de Biden é pior
para o mundo todo, exceto Israel, que a de Trump. Como diz um dos seus slogans
preferidos, a meta do atual governo é “restabelecer no mundo a liderança
inconteste dos Estados Unidos”.
Não foram divulgados os termos em que a
questão G5 foi posta aqui pelos dois agentes. Para o essencial, nem foi
preciso. Só determinar que fossem ditos em pessoa, e pelos escolhidos para
fazê-lo, foi bastante.
O 5G é de importância definitiva para o
Brasil tentar recuperar-se do atraso multissecular que o condena. Talvez a
última oportunidade.
Mas Bolsonaro e seu pessoal não têm sequer
as condições mínimas para qualquer ato em tal questão. O Congresso, em
particular o Senado, precisa representar o futuro e impor medidas preventivas
contra possíveis traições à soberania.
Nisso as Forças Armadas teriam papel
relevante, mas estão minadas pelo bolsonarismo que se soma ao seu americanismo
de guerra fria.
A concorrência legítima é indispensável.
Ainda que seja retardada e aguarde a conclusão do sistema americano, para a
melhor escolha de futuro brasileiro.
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