Valor Econômico
O candidato da terceira via é Jair
Bolsonaro, diz Moura
Fundador do instituto Ideia Big Data, o
economista e consultor político Maurício Moura é um visionário: em 2018, foi o
primeiro a afirmar que o até então subestimado Jair Bolsonaro poderia vencer a
eleição presidencial. Oito meses antes do pleito, declarou ao “El País”:
“Bolsonaro é favorito para levar em um eventual segundo turno se for contra o
PT”.
Atento à conjuntura internacional, Moura já
havia detectado no fim de 2017 que o Brasil era ambiente propenso à
proliferação dos “outsiders”, políticos que se autoproclamavam “antissistema”.
Bolsonaro surfou na onda da indignação provocada pela Operação Lava-Jato e
ainda farejou a segurança pública como agenda prioritária.
“Era
mais simples fazer a leitura do cenário [naquele ano]”, reconhece o consultor,
que também é professor da Universidade George Washington. Agora, a um ano do
pleito, diz que a conjuntura ainda está nebulosa, mas enxerga o PT
irremediavelmente no segundo turno, como ocorre desde 1989 - com exceção de
1994 e 1998, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) venceu na primeira rodada.
Assim como em 2018, Maurício Moura abre
nova dissidência nas análises eleitorais para afirmar que o verdadeiro
representante da “terceira via” é Jair Bolsonaro e não o nome em gestação pela
coalizão de partidos de centro-direita.
“Ele é o ponto fora da curva”, justifica. Se não recuperar uma boa parcela do eleitorado, não chegará ao segundo turno contra o PT. Segundo o professor, desde 1989, o eleitor depara-se com esta pergunta: “quero o PT governando o país?”
Ante o impasse, Moura diz que o eleitor
passou a antecipar o voto do segundo turno na primeira rodada. Cita o exemplo
de 2014, quando Aécio Neves (PSDB) ganhou dez pontos percentuais em cinco dias
com o voto útil do eleitor que achou que Marina Silva (Rede) seria presa mais
fácil do PT no segundo turno.
Moura acredita que mais perto das eleições,
o antipetismo voltará a aflorar, porque a rejeição ao ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tende a crescer na campanha eleitoral. E o eleitor que também não
quer Bolsonaro de novo, vai olhar para o lado e indagar qual a opção
disponível. “Lula tem que torcer para Bolsonaro melhorar e ser o adversário
dele. Se Bolsonaro piorar, Lula deixa de ser o favorito. Vai ser apertado para
os dois”, adianta.
Na esteira do arrefecimento dos movimentos
antissistema em outros países - como a derrota de Donald Trump e a perda de
fôlego do Movimento 5 Estrelas, na Itália, e do Podemos, na Espanha -, Moura
enumera obstáculos para a reeleição de Bolsonaro.
O principal desafio é a recuperação
econômica no prazo apertado de um ano. “Não vejo uma mistura de elementos tão
fortes desde 1988: desemprego, inflação, pobreza, fome, milhares de negócios
pequenos fechando. Só tem prosperidade na fronteira agrícola, em função das
exportações”, observa.
Pesquisa Ideia Big Data divulgada no mês
passado apontou que sete em cada dez brasileiros concordam que a inflação tem
piorado a cada dia, 80% dos entrevistados citam alimentos, combustíveis e
energia elétrica como itens que sofreram as maiores altas e 64% mudaram os
padrões de consumo. A próxima pesquisa do instituto, com nova rodada da
sucessão presidencial, deve ser divulgada no dia 29.
Moura alerta que é inútil Bolsonaro
terceirizar a responsabilidade dos preços altos para os governadores, porque “a
conta da economia sempre vai bater na porta da Presidência da República”.
Acrescenta que o presidente tem um índice
de ruim e péssimo de 55% praticamente consolidado. Seu potencial de crescimento
residiria nos cerca de 20% do eleitorado que consideram o governo “regular”,
sendo que 10% desse grupo se encontra nas classes D e E.
Para Moura, nem mesmo o lançamento do
Auxílio Brasil, programa de transferência de renda que deverá substituir o
Bolsa Família dos governos petistas, seria capaz de impulsionar a popularidade
de Bolsonaro. “Não tem bala de prata para a economia”.
Isso porque, para se mostrar eficaz ao ponto
de fazer Bolsonaro chegar com pelo menos 35% de ótimo e bom próximo das
eleições, o futuro Auxílio Brasil teria que ser muito bem executado.
O valor estimado em R$ 300 só terá impacto
na realidade das famílias de baixa de renda nas cidades pequenas. Lembra que o
Bolsa Família foi criado em 2003 e ampliado em até 44% entre 2005 e 2007, tendo
como foco os grotões.
Em paralelo, Moura vê Bolsonaro incorrer no
mesmo equívoco de Trump, que durante os quatros anos de mandato se dirigiu
apenas à base de apoiadores. Nesse período, o republicano manteve índices de
40% de aprovação, e, no fim, foi parar no cadafalso.
Moura reage com ceticismo ao novo perfil
moderado de Bolsonaro, no qual se fiam caciques do Centrão para investir na
reeleição do aliado. “O modelo dele é avançar e depois recuar”, relembra.
O primeiro recuo evidente de Bolsonaro
ocorreu após 18 de junho do ano passado, quando Fabrício Queiroz, ex-assessor e
ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), foi preso em Atibaia
(SP), na casa de Frederick Wassef. Até então, Bolsonaro ostentava sua verve em
atos em que seus apoiadores cobravam o fechamento do Supremo Tribunal Federal
(STF), do Congresso e a intervenção militar.
A trégua durou poucos meses. Em novembro,
depois de votar no segundo turno do pleito municipal, Bolsonaro retomou os
ataques às urnas eletrônicas, alegando, sem provas, fraude em 2018. O apogeu do
novo “round” contra as instituições deu-se em 7 de setembro, quando chamou o
ministro Alexandre de Moraes do STF de “canalha”.
Foi então que houve o segundo recuo: o
ex-presidente Michel Temer foi chamado a intervir e Bolsonaro divulgou a
“declaração à Nação” em 9 de setembro. Afirmou que nunca teve intenção de
agredir os poderes e atribuiu os insultos ao “calor do momento”. Desde então,
contabilizam-se 40 dias de novo cessar-fogo, mas Moura segue incrédulo: “Está
na essência dele [Bolsonaro] agredir as instituições”.
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