Folha de S. Paulo
Consumo de energia cai, ânimo do consumidor
piora de novo e 2022 depende de sorte
A confiança do consumidor flutuava
com as notícias da epidemia desde o início de 2020, como era de esperar.
Menos mortes, os relaxamentos das restrições de movimento e aglomeração ou a
recuperação de alguma atividade econômica diminuíam o abatimento, pelo menos
até julho, agosto. Desde setembro, os
números da Covid melhoraram. O ânimo do consumidor piorou. Em novembro caiu
de novo, na medida da Sondagem do Consumidor, da FGV.
O consumo de energia elétrica caiu em
outubro, em relação ao mesmo mês do ano passado, de economia ainda muito
derrubada pela Covid. Na primeira quinzena de novembro, o consumo caiu de novo,
segundo dados da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).
Temperaturas mais amenas ajudam a explicar as quedas recentes, mas a inflação bateu no comércio outra vez, assim como a falta de peças e insumos, uma crise mundial, prejudica montadoras de veículos e manufaturas diversas, diz a análise da CCEE.
No geral, a recuperação rápida da economia,
desde o fundo do poço, parou no segundo trimestre. O desempenho geral do
terceiro trimestre ainda não saiu, mas um indicador do Banco Central sugere que
o PIB foi fraco. As primeiras notícias de novembro são ruins, como se vê.
O tamanho e a persistência da inflação
surpreenderam quase tudo mundo —os economistas de instituições financeiras
previam queda do IPCA a partir de meados do ano. Não aconteceu, em parte por
causa do desgoverno, que inflou o preço do dólar e de resto abateu a confiança
em geral.
A onda de mortes por Covid, que chegou ao
pico em abril, fez enorme estrago, claro. A crise mundial de abastecimento não
arrefeceu.
Desde setembro, os juros na praça
financeira dispararam por causa da inflação, mas também porque os donos do
dinheiro passaram a achar que daria besteira no controle do gasto do governo e,
assim, na dívida. Deu.
A recuperação rápida até março foi em parte
abalada por fatores externos. O que poderia ser salvo por aqui, no nosso
mundinho doméstico, foi queimado pela balbúrdia atroz do Planalto. O estrago
está feito, apenas ainda não se sabe o tamanho, do que nos vai restar para
2022.
Do lado positivo, ao menos para o
crescimento de curto prazo, é possível que os investimentos de estados e
municípios "em obras" compensem parte do tombo.
Prevê-se que a taxa de inflação fique no
ritmo de 10% ao ano até abril, por aí, mas ainda existe a possibilidade de
surpresas positivas, todas fora do nosso controle.
Pode chover bastante, o que poderia causar
um alívio ligeiro no preço da eletricidade. O destino do choque de energia
mundial é também imprevisível, depende de coisas como o inverno na Europa e
decisões de Opep e Rússia sobre petróleo e gás. A crise mundial no
abastecimento de insumos industriais e de congestionamento no transporte de
mercadorias pode arrefecer antes do previsto (este ano deu errado).
No que diz respeito à política econômica
brasileira, mesmo o milagre da sensatez seria tardio.
A mudança
avacalhada do teto de gastos e a moratória de precatórios já
fizeram seu estrago, como se vê no mercado de juros e nas condições
financeiras em geral. A esperança, neste caso, é apenas de não haver piora
extra. Não haverá mudanças institucionais grandes que possam alterar um tanto
dos ânimos. Ao contrário. A partir de março ou abril ou ânimos podem ficar
ainda mais exaltados ou deprimidos por causa da campanha eleitoral.
O restinho de esperança econômica para 2022
agora depende basicamente de sorte e de que não ocorram estragos adicionais.
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