Folha de S. Paulo
Qual versão preponderará? Fácil, a de quem
estiver à frente nas pesquisas
As prováveis candidaturas de Lula e Sergio Moro deverão levar ao eleitor uma batalha de narrativas em torno da Lava Jato. Na versão do petista, a operação não passou de uma manobra arquitetada por Moro e seus sequazes para encarcerá-lo injustamente e retirá-lo do pleito de 2018, que venceria fácil. Já para o ex-juiz, a Lava Jato era um movimento virtuoso, que estava conseguindo julgar e prender políticos e empresários corruptos, que havia séculos assaltavam a coisa pública. Lula era um desses corruptos. A um dado momento, o sistema conseguiu articular uma reação, pondo fim à operação, livrando condenados e tentando desmoralizar seus campeões, entre os quais o próprio Moro.
Qual versão preponderará? Fácil, a de quem
estiver à frente nas pesquisas. Gostamos de imaginar nossas mentes como
máquinas de analisar evidências e extrair conclusões, mas não é bem assim que
as coisas funcionam. Especialmente quando estamos em modo político, costumamos
usar nossas preferências para "ajeitar" as evidências, reforçando as
conclusões a que já havíamos chegado antes mesmo de analisar os fatos.
O psicólogo
Drew Westen estudou como isso ocorre. Meteu militantes em máquinas
de ressonância magnética e monitorou suas reações enquanto assistiam a cenas de
seus líderes favoritos caindo em contradição. Westen
conseguiu detalhar os mecanismos que a mente utiliza para
apaziguar o conflito e ainda descobriu que ela pode extrair sensações positivas
desse exercício. Entre os circuitos ativados estavam os sistemas de recompensa
do cérebro.
As implicações desse achado não são
triviais. O militante não apenas tem dificuldade para processar argumentos com
os quais não concorda (o que já era mais ou menos esperado) como sente prazer
ao ignorá-los. O surpreendente é que a democracia, um sistema que tinha como
premissa a existência de um eleitor racional e informado, continue funcionando.
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