O Globo
O centro democrático brasileiro
não ganha uma eleição no Brasil desde Fernando Henrique Cardoso. Mesmo assim, o
centro que elegeu FHC era híbrido. O PSDB, ainda fresco, tinha epidermicamente
uma camada de tinta rosa que lhe dava um ar social-democrata. Quem puxou para o
centro aquela chapa que venceu duas eleições no primeiro turno foi o PFL,
filhote do PDS e da Arena da ditadura. Depois, tivemos dois presidentes eleitos
e reeleitos pela esquerda e um eleito pela direita. O centro com poder
eleitoral encolheu por falta de apelo e discurso, mas continuou governando com
Lula, Dilma e Bolsonaro.
Na verdade, desde a instalação da República, quem governa o Brasil é o centro. Nos governos do PT, as alianças com PP e PL, e depois com o MDB, transformaram o que deveria ser um governo de orientação socialista. Lula (mais) e Dilma fizeram as alianças necessárias para governar e implementar o que podiam da sua pauta original. Mas para isso foram obrigados a ceder, e não apenas ministérios, diretorias de estatais e cargos superiores da administração pública. O PT foi de esquerda nas questões sociais e liberal na economia. Além, claro, de permitir avanços sobre os cofres públicos.
O PT governou com o Centrão
desde o dia 1º de janeiro de 2003. Dando mesadas com dinheiro público e
atendendo outras demandas dos líderes dos partidos aliados, mesmo as não
republicanas. Quando tentou se afastar do centro, com Dilma, caiu por falta de
apoio no Congresso. A sessão de cassação da ex-presidente serviu como aula da
política que se pratica no Brasil. Os deputados que apoiaram com todo o empenho
e todas as benesses os dois mandatos de Lula e o primeiro da própria Dilma
votaram pela sua cassação com discursos libertários. No dia seguinte,
alinharam-se confortavelmente no governo Temer.
Com Bolsonaro, o centro foi se
imiscuindo no governo até dominá-lo. Do leão de extrema-direita eleito em 2018
restou apenas um gato magro que bebe leite na mão do Centrão e tenta rugir para
seu público radical. O presidente, que imaginou conseguir governar sem respaldo
político, apenas com o aval dos eleitores, poderia e deveria ter sido cassado
pelos inúmeros crimes que cometeu ao longo dos seus três anos de mandato. Não
foi, por falta de coragem de um presidente da Câmara e por interesse político
de outro. Com Arthur Lira, Bolsonaro foi enquadrado. Afastou seus ministros
mais abusados e nomeou a turma do Centrão.
Claro que o centro no poder não
significa sucesso do governo. Apesar de estar sitiado pelo Centrão, Bolsonaro é
rejeitado, seu governo é considerado ruim ou muito ruim pela maioria, e todas
as pesquisas mostram que se a eleição fosse hoje perderia talvez já no primeiro
turno. Mas, por ser democrático, o centro afasta os governantes dos extremos.
Foi assim com Lula e Dilma, tem sido assim com Bolsonaro. E não digam que o
Centrão não é democrático. É, sim. Ele pode não ser honesto, mas democrático
ele é. Não por ideologia, e sim por interesse. Com a democracia, eles dividem o
poder e dele se beneficiam; sem ela, viram satélites em torno de tecnocratas
nomeados por ditadores.
De acordo com apuração dos
repórteres Marianna Holanda, Julia Chaib e Mateus Vargas, o Centrão impôs uma
mudança de discurso do presidente contra o sistema eleitoral e as urnas
eletrônicas e o fez suspender seus ataques antidemocráticos contra as
instituições. Foi sua condição para embarcar no poder. Será assim com Lula, se
ele efetivamente ganhar a eleição do ano que vem. Não que Lula tenha um
discurso radical, nada se compara à retórica golpista de Bolsonaro. Mas o PT já
tentou censurar a imprensa, inventando um certo controle externo da atividade
jornalística que, obviamente, seria feito por um comitê de notáveis amigos do
partido. É bom não se esquecer disso. E quem não se lembra de José Dirceu
afirmar que o objetivo do partido é “tomar o poder, o que é diferente de ganhar
eleição”?
Por ser forte no Congresso, mesmo sendo fraco
em eleições majoritárias, o centro segue politicamente protagonista. Formado
por parlamentares de diversos partidos, de alguns novatos até o veterano MDB,
ele é a âncora que transfigura partidos ideológicos depois de assumirem o poder,
impedindo que exerçam amplamente suas pautas originárias. E é o centro também
que não permite desvios totalitários de qualquer tom. O centro morreu, viva o
centro.
No mais, boas festas para
todos.
Lula X Dilma
Por vezes, as pessoas mais próximas de Lula
até se constrangem diante do tom empregado pelo ex-presidente quando se refere
à sua sucessora, Dilma Rousseff. Lula não esconde dos íntimos a má vontade que
tem com Dilma. Por vezes, usa até
palavrões para designar a “companheira”.
O golpista voltou
José Dirceu anda com uma desenvoltura de
fazer gosto nos arredores da pré-campanha de Lula. Alguns dos líderes
partidários já relatam o incômodo que ele causa. Mas todos são muito cuidadosos
ao tratar do assunto, já que o PT, cheio de dedos (sem piada, por favor), tem
problema em responsabilizar
quadros históricos por malfeitos políticos. Entendem que
atacar Dirceu enfraquece o projeto do terceiro mandato de Lula, e vão
aguentando.
Os democratas
Há dois tipos de políticos obrando no
Brasil por estes dias. Os democratas e os outros. Os democratas, que são
maioria, podem ser de esquerda, de centro ou de direita e são capazes de sacrificar até mesmo projetos políticos pessoais
ou partidários para defender a democracia. Os outros também podem estar em
qualquer canto do espectro político, mas são sabotadores da estabilidade,
querem ocupar todos os espaços e não mudam de camisa para dar um golpe contra a
democracia. Os democratas podem salvar o Brasil de bolsonaros e dirceus. Por
isso, e talvez só por isso, faça sentido a aliança de Alckmin com Lula.
Esquerda
A onda de esquerda que neste ano culminou
com a eleição de Gabriel Boric, no Chile, parece ser mais um freio na tendência de direita que
começou há alguns anos na Europa e por aqui mesmo na América Latina, e ganhou
força depois da eleição da Donald Trump, nos Estados Unidos. No ano que vem tem
mais.
Nosso Rio
Vem aí um prêmio para iniciativas positivas e
criativas que favoreçam o Rio. Trata-se de uma ideia
do think tank cRio
ESPM e vai conceder três prêmios: para estudos e pesquisas realizadas no Rio
entre 2017 e 2021; para empreendimentos criativos, que contemplem produtos e
modelos de negócios inovadores; e para projetos inovadores na cultura da saúde.
As inscrições estarão abertas até o dia 25 de fevereiro.
Fernanda e Chico
O vereador Chico Alencar publicou no Youtube
uma singela homenagem ao
Natal. Texto de sua autoria, com narração dele e de Fernanda Montenegro, o
vídeo pode ser visto em https://youtu.be/3liF5DJ9Djg.
Orçamento antieleitoral
Imagino que estejam enganados os que pensam
que Jair Bolsonaro vai se dar bem eleitoralmente em razão do orçamento bisonho
que aprovou para o ano que vem. Há pouco dinheiro para investimentos em obras
de infraestrutura que melhoram o país e geram emprego e renda. Há algum
dinheiro para recomprar um apoio que ele já tem, que é a verba para aumentar
salários de policiais. Há muito
dinheiro para deputados e senadores do Centrão
distribuírem em seus currais, mas estes estão prontos para deixar a base de
Bolsonaro ainda no primeiro semestre do ano que vem. Há dinheiro nunca antes
visto para campanhas partidárias. Não há dinheiro para melhorar a vida dos
pobres de maneira estrutural, apenas as bolsas, importantes, mas paliativas.
Base de Bolso
A base sólida do presidente para a eleição
de 2022 cabe num dos bolsos do seu paletó. É formada sobretudo por policiais,
fardados ou não, militares das três Forças e milicianos. Bolsonaro tem ainda o
apoio de uma parcela dos empresários paulistas, como se viu na sua visita à
Fiesp na semana passada, e da parte mais atrasada do agronegócio. Não dá 20% do eleitorado. E
quando este índice cair para baixo desse patamar nas pesquisas, vai começar a
debandada.
Olavetes fora
Bolsonaro, quem diria, está prestes a
perder o apoio de três
valorosos mosqueteiros, os ex-ministros mais sórdidos que teve,
Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e Ricardo Salles. Eles participaram da
entrevista de Olavo de Carvalho em que este atacou o presidente no YouTube. Os
“olavetes” ouviram contritos a bronca do guru e ficaram calados.
Vacina em crianças
Se você achava que ainda faltava alguma
coisa para o
inacreditável Jair Bolsonaro fazer, acho que agora se
convenceu de que não falta mais nada.
CPI da Covid
E o relatório da CPI? Alguém o viu por aí? Parece
que foi visto pela última vez na Procuradoria-Geral da República.
EXEMPLO CASEIRO
O governador do Acre, Gladson Cameli, alvo de buscas da PF por corrupção e lavagem de dinheiro, tem pedigree. Seu tio, Orleir Cameli, ex-governador do estado de 1995 a 1999, respondeu a acusações por corrupção, narcotráfico e trabalho escravo. O tio de Gladson também ficou conhecido por ter sete CPFs. Está claro que escola familiar de bandidagem não ocorre apenas no plano federal.
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