O Globo
Até o último dia 22, portanto já incluindo
a Ômicron, a Covid-19 havia causado 277 milhões de infecções, com 5,4 milhões
de mortos no mundo. Com a nova variante se espalhando muito mais rápido que as
anteriores, como encarar as festas de fim de ano? Que festas?
Por outro lado, os mesmos dados da Johns
Hopkins University mostram que 8,8 bilhões de doses haviam sido aplicadas, com
muitos países já avançando na terceira dose, e Israel iniciando o programa da
quarta aplicação.
Visto assim, já se encontra algum espaço
para comemoração, mas só para vacinados e em ambientes seguros.
A Covid-19 continua sendo um desastre, mas é preciso admitir que o mundo reagiu de forma espetacular. E continua. As vacinas foram produzidas e aplicadas numa rapidez inédita e já começam a aparecer os remédios para tratar quem apanha a doença.
Não foi, entretanto, de uma hora para
outra. As vacinas não saíram do nada, mas resultaram de anos e anos de pesquisa
conduzida globalmente, com os cientistas compartilhando dados e conclusões. As
farmacêuticas reuniram cérebros do mundo todo, a que entregaram material e
insumos valiosos.
Eis aí um claro triunfo da globalização.
O problema maior é velho conhecido: a distribuição
desigual dos benefícios. Mas também é verdade que a renda global estava
crescendo antes da Covid-19 — o que, obviamente, facilita os planos de melhor
distribuição —, como é certo que o mundo volta a crescer neste momento.
De novo é desigual — alguns países à
frente, outros mais devagar. O Brasil está no grupo de trás — e isso nos leva
ao ponto principal: a responsabilidade de cada país, sociedade, cidadãos,
governos.
O Brasil provavelmente passará por nova
recessão — e não por causa de um ambiente externo negativo ou, como diriam os
bolsonaristas, de uma conspiração globalista-comunista (seja lá o que isso
queira dizer).
O governo Bolsonaro é ruim não apenas na
política, mas revela uma incompetência inédita mesmo num país que já teve
tantos administradores da pior qualidade.
Governos estaduais e prefeituras continuam
vacinando e tratando dos casos. Mas Ministério da Saúde, fora do ar em todos os
sentidos, não consegue registrar e ainda faz de tudo para atrasar a vacinação
de crianças.
Num país que pode se orgulhar de seus
infectologistas e de seu sistema de vacinação, o ministro da Saúde chama uma
audiência pública para ouvir a opinião de quem quer que se apresente. Resultado
óbvio: uma enxurrada de veiculações de robôs contra a vacinação.
É certo que, em democracias, a decisão
final cabe aos eleitos pelo povo. Mas é certo também que gestores inteligentes
compreendem a complexidade do mundo atual, da economia às ciências, por isso
foram criadas as agências técnicas para dar base às decisões.
Bolsonaro acha que tudo isso é bobagem — o
que era de esperar considerada sua (má) formação e seu passado (condenável). O
que surpreende é a quantidade de pessoas supostamente bem formadas que o
acompanham.
Governos estaduais e prefeituras têm de
agir por conta própria para apressar a terceira dose e vacinar as crianças. A
sociedade deve exigir isso.
O momento é difícil, mas afinal o país
conseguiu avançar na vacinação e no controle das infecções com um governo
federal agindo contra.
A ciência global, de novo, está fazendo sua
parte, descobrindo os diversos aspectos da Ômicron — mais contagiosa, menos
grave.
Há diversas maneiras de medir os impactos
da Covid-19. A revista The Economist encontrou uma bem original. O pior dia da
vida em sociedade foi 9 de abril de 2020, uma quinta-feira: o número de
reservas em restaurantes, pelo site OpenTable, nos EUA, Austrália, Inglaterra,
Canadá, México e Alemanha caiu para zero — isso mesmo, nenhuma reserva. O
normal? Na casa dos milhões.
Vacinas, tratamentos, restrição de circulação,
lockdowns — e assim caímos na virada de 2021/22, com muitas famílias podendo se
reunir e parte dos restaurantes aberta. Boas festas? Mais ou menos, né?
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