Valor Econômico
O ambiente de recessão tende a bater de
novo à porta, sendo que agora em um quadro eleitoral que promete emoções
Há consenso de que o país deve vivenciar em
2022 uma das mais tumultuadas eleições majoritárias dos últimos tempos. No
cenário político que já se advinha confuso, o preço mais importante a ser
acompanhado, com potencial de comprometer ainda mais os fundamentos da economia
brasileira, será a taxa de câmbio.
Como qualquer outro preço que se forma a partir das forças do mercado, o valor do real face ao valor das demais moedas fortes, aquelas que detêm o inabalável poder da conversibilidade, tende a seguir em processo de forte desvalorização. Já em princípio, estará contaminado pelo aumento da inflação interna que por sua vez carrega as expectativas da deterioração fiscal em uma fase complicada de interrupção das cadeias de suprimento, além dos altos custos de produção provocados em boa parte, justamente, pela perda do poder de troca cambial do real desde o início da pandemia.
O preço do câmbio é complexo. Sua formação
depende do impacto de uma série de fatores, muitos deles de ordem
financeiro-econômica e outros que se alinham no âmbito do subjetivo. No campo
da objetividade, não se deve esquecer os que têm origem em outros países sobre
os quais o governo brasileiro não tem qualquer ingerência.
É o caso, por exemplo, da inflação
americana que em doze meses cravou alta de 6,8% na posição de novembro,
conforme anúncio da semana passada. Com a variação em doze meses do nosso IPCA
em 10,74%, a taxa de câmbio do dólar, por mais alta que esteja, ainda corre
abaixo do que seria o nível necessário para compensar a relativa perda de valor
das duas moedas. Estima-se que seria algo em torno de R$ 6 por dólar. Ontem, no
mercado comercial, o dólar americano era cotado a R$ 5,6711 na posição de venda
às 17h, segundo dados deste jornal. Correspondia a uma valorização de 1%, bem
expressiva para um único dia.
Sabe-se que o maior componente a
influenciar na formação da taxa de câmbio é aquele que tem a ver com o mercado
propriamente dito, ou seja, com a entrada e a saída de dólares do país. Imagina-se
que o elevado nível das reservas internacionais é um elemento positivo e de
certo modo não deixa de ser. Pode-se dizer que seja um fator de estabilidade no
tempo, mas pouco tem a ver com o preço do câmbio.
Reserva cambial é estoque, ou seja, a
quantidade de divisas estrangeiras de que dispõe o país para se manter líquido
em suas finanças externas. E ainda bem que o país tem esse colchão pois, do
contrário, o real estaria bem mais desvalorizado. Baixas reservas, aí sim,
atuam como fator de desestabilização cambial.
O importante é não confundir com o fluxo,
aquilo que representa o movimento diário de divisas diretamente relacionado ao
comércio externo e aos investimentos e que impacta o câmbio na veia. E esses
números não têm sido nada favoráveis. Basta olhar os dados do Banco Central
para constatar que este ano, até o final de novembro (onze meses, portanto) o
saldo total das operações de câmbio contratado somou apenas US$ 16 bilhões.
Isso inclui uma ligeira melhoria a favor do país do saldo das operações
financeiras que ficou positivo em US$ 5,59 bilhões entre saídas e entradas até
novembro, reflexo, talvez, do aumento da taxa de juros que tornou mais
compensadora a inversão do capital estrangeiro no mercado financeiro do país.
Já o saldo total acumulado dos contratos
referentes aos movimentos de exportação e de importação não passou de US$ 10,5
bilhões ao final de onze meses. Alguns analistas acham que o câmbio contratado
pelas exportações foi menor porque tem sido dada preferência a manter as
divisas no exterior, ao invés de internalizá-las. O fato estaria ocorrendo a
despeito do aumento dos juros internos, mas nada se provou a respeito e,
portanto, desconhece-se o montante correspondente que teria deixado de
alimentar a oferta de dólares no mercado interno.
Em todo o caso, se isolarmos só o mês de
novembro o saldo total dos contratos (operações comerciais mais financeiras)
foi negativo no valor de US$ 3,398 bilhões.
Sabe-se, também, que a balança dos
contratos de câmbio foi significativamente negativa para as operações de
caráter financeiro em 2019 e em 2020 (-US$ 62, 244 bilhões e -US$ 51,173
bilhões, respectivamente). O fraco desempenho dos contratos cambiais relativos
às operações comerciais em 2019 (+US$ 17,475 bilhões) e no ano passado (+US$
23,250 bilhões) não chegaram a trazer grande alívio para o câmbio. Em verdade,
a cotação do dólar segue pressionada desde lá.
A perspectiva de uma nova onda da covid-19,
com a cepa ômicron - o Reino Unido acusou ontem pelo menos uma morte causada
pela variante, enquanto que o NHS (National Health Service) recorre a quartos
de hotel para desafogar a pressão por leitos no sistema - coloca o Banco
Central do Brasil em nova sinuca de bico. Com a possibilidade de o PIB
apresentar crescimento pífio no ano que vem, somado à alta dos juros que só
deve ceder com sinais claros de controle da inflação, o ambiente de recessão
tenderá a bater novamente à porta, sendo que agora em um quadro eleitoral que
promete emoções para além do que se possa imaginar.
Apesar das projeções nada reconfortantes, a
coluna deseja a todos um Ano Novo pleno de prosperidade. E muita saúde!
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