O Estado de S. Paulo.
A eleição de 2022 não será para construir horizontes, será para destruir adversários
Foi-se o tempo em que os brasileiros
discutiam quem consideravam o melhor candidato, mais experiente, preparado,
confiável, honesto e, só de quebra, davam uma estocada nos que não gostavam de
jeito nenhum. Agora, os eleitores só criticam, atacam, quando não odeiam. A
eleição de 2022 será um campeonato de rejeições.
Esse movimento começou, ou se intensificou,
em junho de 2013, com os protestos espontâneos contra tudo e contra todos,
embalados pela internet e ao largo dos partidos políticos. A negação da
política deu no que deu, mas só piora.
Novas pesquisas deverão confirmar, nesta semana, altos índices de rejeição. O presidente Jair Bolsonaro, por exemplo, teve 59% e foi o campeão nesse quesito no Datafolha de setembro. Tudo é possível, mas é difícil um candidato com esse índice vencer no final.
Foram duas perguntas: “Em quem não vota de
jeito nenhum no primeiro turno da eleição para presidente?” e, depois, “Em quem
mais?” Ou seja, os entrevistados puderam apontar os dois candidatos que mais
rejeitam e Bolsonaro “venceu” na soma. Os demais, porém, não têm o que
comemorar.
A rejeição do ex-presidente Lula, primeiro
nas intenções de voto, foi de 38%. A de João Doria, então disputando as prévias
do PSDB, de 37%. A de Ciro Gomes, 30%. Todas muito altas. Os demais ficaram
abaixo de 20%, porque são desconhecidos. Pouco conhecimento, baixa rejeição.
Nas novas pesquisas, o ex-juiz Sérgio Moro
chega ao terceiro lugar das intenções de voto, mas disputando com Bolsonaro o
campeonato de rejeição. Pelo instituto Quaest, que registra o índice só entre
os que conhecem o candidato, a rejeição de Moro bateu em 61%.
Considerado todos os entrevistados, nem
Moro nem os demais deverão chegar a uma rejeição tão impactante, mas ainda
assim o índice de Moro será alto. Ele é o mais rejeitado/detestado pelos
eleitores de Lula e pelos bolsonaristas resilientes.
Assim, a eleição vai ser uma guerra de
rejeições, de ataques, de ódio e de... fake news. As verdades contra os
adversários serão muito pioradas, para assumir potencial destruidor. As
meias-verdades serão muito apimentadas, para tornar esses adversários
intragáveis.
Com Lula consolidado, ele tenta adiar sua
entrada no tiroteio, enquanto Bolsonaro mira em Moro e em Doria e Moro e Doria
atacam Bolsonaro, tudo pela segunda vaga do segundo turno. Já Ciro Gomes ataca
Moro e Doria para sobreviver.
Assim, não esperem programas de governo,
compromissos, debates sobre economia, inflação, emprego, renda, educação e
saúde. A eleição de 2022 não será para construir horizontes, será para destruir
adversários.
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