O Globo
Equipes da TV Aratu, afiliada do SBT, e da
TV Bahia, afiliada da Globo, foram agredidas por seguranças e apoiadores do
presidente Jair Bolsonaro neste domingo em Itamaraju, no sul da Bahia, região
fortemente atingida pelas chuvas da última semana. O repórter Chico Lopes, da
TV Aratu, levou tapa de um funcionário da segurança do presidente. Enquanto ele
ameaçava os jornalistas, um apoiador de Bolsonaro furtou o microfone da
repórter Camila Marinho, da TV Bahia. Em defesa da colega, Chico reagiu e foi
ofendido pelo homem, que, contido por pessoas próximas, seguiu, de longe,
proferindo ameaças e ofensas. Bolsonaro chegou a pedir calma ao segurança.
O que há de novo nessas cenas, que repetem um pouco os encontros do presidente com jornalistas — basta lembrar a recente visita a Roma —, é o emprego pela primeira vez do mata-leão, um tipo de estrangulamento usado nas artes marciais japonesas que consiste em imobilizar o oponente pelas costas. Camila Marinho chegou a sofrer o golpe.
Por ironia, essas agressões ocorreram na
semana em que a liberdade de imprensa era exaltada com o maior prêmio
internacional. Os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov receberam o Nobel da
Paz por sua “luta corajosa” em defesa da liberdade de expressão nas Filipinas e
na Rússia, respectivamente. A comissão se referiu à dupla como “representantes
de todos os jornalistas que defendem esse ideal”. Na cerimônia de entrega do
prêmio, na última sexta-feira, em Oslo, na Noruega, Muratov pediu um minuto de
silêncio em homenagem aos colegas que “deram suas vidas por esta profissão”. E
acrescentou: “Quero que os jornalistas morram de velhice”. Os vencedores do
prestigioso prêmio, no valor de 10 milhões de coroas suecas (mais de R$ 6
milhões), haviam sido anunciados em outubro entre 329 candidatos.
A violência bolsonarista ocorre também no
mês em que a imprensa é celebrada com o prêmio Digital Media Awards Worldwide
2021. O GLOBO venceu na categoria Melhor Compromisso de Audiência pela
estratégia de distribuição de conteúdo sobre o combate à Covid-19. O conjunto
de iniciativas para responder de imediato à pandemia incluiu a suspensão do
paywall — a barreira para não assinantes no acesso às reportagens publicadas no
site — para informações sobre a Covid-19 e a mobilização em tempo recorde da
redação para criar produtos que, além de informar, ajudassem os leitores no
período do isolamento social.
O jornal já havia conquistado no ano
passado a mesma categoria na edição regional do prêmio para a América Latina. A
cobertura ofereceu conteúdos especiais no ambiente digital, como guias em PDF,
de distribuição gratuita, com informações sobre prevenção contra a doença e
dicas de como trabalhar em home office e entreter as crianças em casa.
Moral da história: contra a imprensa, o
mata-leão não vai funcionar.
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