terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Zuenir Ventura - As agressões e os prêmios

O Globo

Equipes da TV Aratu, afiliada do SBT, e da TV Bahia, afiliada da Globo, foram agredidas por seguranças e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro neste domingo em Itamaraju, no sul da Bahia, região fortemente atingida pelas chuvas da última semana. O repórter Chico Lopes, da TV Aratu, levou tapa de um funcionário da segurança do presidente. Enquanto ele ameaçava os jornalistas, um apoiador de Bolsonaro furtou o microfone da repórter Camila Marinho, da TV Bahia. Em defesa da colega, Chico reagiu e foi ofendido pelo homem, que, contido por pessoas próximas, seguiu, de longe, proferindo ameaças e ofensas. Bolsonaro chegou a pedir calma ao segurança.

O que há de novo nessas cenas, que repetem um pouco os encontros do presidente com jornalistas — basta lembrar a recente visita a Roma —, é o emprego pela primeira vez do mata-leão, um tipo de estrangulamento usado nas artes marciais japonesas que consiste em imobilizar o oponente pelas costas. Camila Marinho chegou a sofrer o golpe.

Por ironia, essas agressões ocorreram na semana em que a liberdade de imprensa era exaltada com o maior prêmio internacional. Os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov receberam o Nobel da Paz por sua “luta corajosa” em defesa da liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia, respectivamente. A comissão se referiu à dupla como “representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal”. Na cerimônia de entrega do prêmio, na última sexta-feira, em Oslo, na Noruega, Muratov pediu um minuto de silêncio em homenagem aos colegas que “deram suas vidas por esta profissão”. E acrescentou: “Quero que os jornalistas morram de velhice”. Os vencedores do prestigioso prêmio, no valor de 10 milhões de coroas suecas (mais de R$ 6 milhões), haviam sido anunciados em outubro entre 329 candidatos.

A violência bolsonarista ocorre também no mês em que a imprensa é celebrada com o prêmio Digital Media Awards Worldwide 2021. O GLOBO venceu na categoria Melhor Compromisso de Audiência pela estratégia de distribuição de conteúdo sobre o combate à Covid-19. O conjunto de iniciativas para responder de imediato à pandemia incluiu a suspensão do paywall — a barreira para não assinantes no acesso às reportagens publicadas no site — para informações sobre a Covid-19 e a mobilização em tempo recorde da redação para criar produtos que, além de informar, ajudassem os leitores no período do isolamento social.

O jornal já havia conquistado no ano passado a mesma categoria na edição regional do prêmio para a América Latina. A cobertura ofereceu conteúdos especiais no ambiente digital, como guias em PDF, de distribuição gratuita, com informações sobre prevenção contra a doença e dicas de como trabalhar em home office e entreter as crianças em casa.

Moral da história: contra a imprensa, o mata-leão não vai funcionar.

 

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