Folha de S. Paulo
O instinto de sobrevivência fez Jair correr
para os braços do centrão
Enfim, unidos. Depois de um longo namoro,
idas e vindas, tapas e beijos, troca de galanteios públicos, presentes às
custas do cidadão brasileiro, saiu o casamento mais provável do ano eleitoral,
do Jair com o centrão. E tem gente que não acredita em almas gêmeas. Mas a vida
—e a política—, essa danada, tratou de celebrar o "feitos um para o
outro". Juntou o fisiologismo ao desespero pelo poder.
O amor —e a política— tem dessas coisas. O sujeito desdenha, diz que não quer comprar —muito menos se vender—, cospe no prato em que se lambuzou a vida inteira, o da politicagem, mas a natureza fala mais alto. E o instinto de sobrevivência fez Jair correr para os braços do centrão.
Na cerimônia que coroou o enlace de Jair
com o PL, de Waldemar Costa Neto, não faltaram afagos ao Republicanos, de
Marcos Pereira, e ao Progressistas, de Ciro Nogueira, dirigentes dos partidos
que mantêm acesa a chama do governo. "Pode ter certeza que nenhum partido
será esquecido por nós", declarou Jair. O "toma lá dá cá", que
Jair fazia de conta rechaçar, está diferente. Tem para todos, uma coisa que nem
poliamor explica.
E não poderiam faltar discursos para
abençoar a união. Eduardo Bolsonaro, questionado sobre suas críticas ao
centrão, deixou claro que abraçou a nova família. "Tem tudo para dar
certo, sim." Enquanto Flávio Rachadinha desdenhou o antigo casamento do
pai com o caçador de corruptos, Sergio Moro. "Traidor", disse ele.
General Heleno não deu às caras. Uma pena. É dele a melhor trilha sonora para
um enlace desse: "Se gritar
pega centrão,
não fica um, meu irmão".
Jair parecia à vontade, disse que estava em
"casa". Tão zeloso pela própria imagem, mandou deter uma cidadã que o
teria xingado em sua passagem por Resende (RJ) nesta semana. Independentemente
do que ela tenha dito, o que pode ser mais desmoralizador do que posar de
noivinho do centrão?
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