quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Bruno Boghossian - Carro de som turbinado

Folha de S. Paulo

Presidente pretende aproveitar verba e espaço na TV para reviver fórmula infame da última campanha

Jair Bolsonaro alugou um carro de som turbinado para sua campanha à reeleição. No discurso de filiação ao PL, o presidente mostrou que pretende usar a verba do partido, o espaço na TV e os palanques nos estados para repetir a fórmula infame que explorou na disputa de 2018.

Aquele deputado do baixo clero não escondia sua agenda. Candidato por uma sigla nanica, Bolsonaro citava planos para reduzir a proteção ambiental, prometia uma abordagem ultraconservadora na educação e agitava o fantasma do socialismo para amedrontar eleitores. Agora, ele quer uma máquina partidária maior para repetir a dose.

Ao lado do anfitrião Valdemar Costa Neto, o presidente pediu apoio da plateia do centrão para que o Congresso revogue decretos ambientais e facilite a abertura de resorts em áreas preservadas de Angra dos Reis (RJ). Reclamou das leis brasileiras e disse que elas protegem "de forma excessiva" a região amazônica.

O presidente também levou ao palanque montado pelo PL suas flâmulas de ultradireita. Citou o lema integralista "Deus, pátria e família", falou em indicar ministros para o STF com "o perfil mais para o lado de cá" e mencionou uma aliança antiesquerdista com seus novos parceiros. "Nós tiramos o Brasil da esquerda. Nós todos tiramos", disse.

O centrão nunca deu bola para essa conversa, tanto que o bloco apoiou com gosto Lula e Dilma Rousseff. No próprio evento de filiação de Bolsonaro, o presidente do PL ignorou a agenda bolsonarista típica. Valdemar afirmou que a sigla apoiava bandeiras como o Auxílio Brasil, o marco do saneamento, o 5G e investimentos em infraestrutura.

Os movimentos desses veteranos da política se pautam por outros valores. Em setembro, Bolsonaro criou encrenca com o presidente do Banco do Nordeste, apadrinhado pelo PL. O motivo era um contrato da instituição com uma entidade ligada a petistas. Valdemar apoiou a troca do dirigente –não porque estivesse contaminado pelo antipetismo, mas porque tinha interesses no negócio.

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