O Globo
O desmonte do Teto de Gastos, que vai
passando no Congresso com a aprovação da PEC dos Precatórios para financiar um
programa social que nasce em ano eleitoral sem sustentabilidade financeira nem
projeto definido, implode a última âncora fiscal vigente, contrapondo a esta
desastrada gestão das contas públicas na esfera federal uma realidade
subnacional caracterizada pela boa gestão das contas de diversos governos e que
não expressa subserviência a ideologias - passa pela tradição de bons governos
tucanos em São Paulo e pela mudança pela qual está passando Alagoas sob a
gestão emedebista; vai desde Goiás, comandada pelo DEM, até governos do PT na
Bahia, no Ceará e no Piauí.
Olhar para estas experiências com lupa foi a proposta que deu vida ao livro organizado pelos economistas Fabio Giambiagi, Guilherme Tinoco e Victor Pina - “O Destino dos Estados Brasileiros -Liderança, responsabilidade fiscal e políticas públicas” (editora Lux). A obra apresenta uma coletânea de artigos, assinados por 21 especialistas, com foco na realidade fiscal de doze estados com diversidade de situações ( RJ, SP, MG, RS , ES, CE, RN, AC, BA, GO, AL + DF).
O livro busca distinguir cada experiência
individual, para dela extrair lições diversas para o caminho do sucesso ou do
fracasso na gestão dos recursos públicos. Entre alguns dos casos bem sucedidos,
São Paulo exibe o resultado de um quarto de século de compromisso com a
austeridade fiscal.
Na mesma linha, já com duas décadas de
adesão, em maior ou menor medida às melhores práticas fiscais, estão o Ceará e
o Espírito Santo. No caminho oposto estão estados como Minas Gerais e,
principalmente, o Rio de Janeiro, que de grau de investimento internacional foi
à penúria fiscal.
A partir de 2016, importantes mudanças da
institucionalidade federal apoiaram o esforço dos estados em sua tentativa de
“arrumar a casa”. Diversas medidas foram promovidas na legislação nacional para
propiciar uma melhoria estrutural da situação dos estados, como a criação do
Regime de Recuperação Fiscal, a modernização do sistema para a contração de
empréstimos e fornecimento de garantias da União, o aprimoramento da
metodologia de classificação de risco do Tesouro e o investimento na
transparência das informações, entre eles o Boletim dos Entes Subnacionais, um
excelente "Raio X" da situação fiscal dos Estados.
Em 2020, na sequência da PEC da reforma
federal, diversos estados implementaram planos de previdência e, em
contrapartida ao auxílio da União aos estados, foi vedada a concessão de
reajustes aos servidores estaduais em 2020 e 2021, o que levou a uma
significativa melhoria das finanças estaduais.
Finalmente, a Lei Complementar 178 - a
versão atualizada do "Plano Mansueto" - permitiu a contratação de
crédito, na condição de os estados adotarem contrapartidas - e uma Emenda
Constitucional aprovada no contexto da pandemia criou o estado de emergência fiscal,
permitindo o acionamento automático de gatilhos quando a relação entre despesas
e receitas correntes supera 95%.
O economista Fabio Giambiagi ainda destaca
dados apresentados no final do livro apontando que, em 2016, somente um estado
obteve nota A na classificação de risco do Tesouro e dez, nota B. Já em 2020,
cinco receberam nota A e 15, B. Essa realidade regional pode ser afetada, no
entanto, por uma decisão liminar recente do ministro Luiz Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal, que permitiu que estados e municípios façam concursos
públicos para preencher vagas existentes, o que estava proibido pela Lei de
Recuperação Fiscal.
O ministro defende a autonomia dos entes
federativos para manterem seus quadros de servidores estáveis, mas pode ter
aberto uma brecha na legislação de contrapartidas fiscais. Com este pano de
fundo, os analistas da obra expõem como alguns governos estaduais conseguiram
transformar um cenário de crise em um de recuperação fiscal, enquanto outros
trilharam um caminho de maior risco. “Sem a competência e o compromisso da
elite política dirigente do Estado em relação à responsabilidade fiscal, não é
possível construir um projeto de desenvolvimento de longo prazo”, aponta Fabio
Giambiagi.
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