Folha de S. Paulo
A resolução para o próximo ano deste país
deve ser para que isso ocorra
Democracia, como o Ano-Novo, é uma ficção,
deliciosamente posta em prática com um punhado de devaneio e outro de
esperança. Que o virar do calendário traga consigo a responsabilidade de quem,
em 2021, deveria ter sido preso —se a Procuradoria-Geral da República descesse
do poste de onde assiste a tudo e se o Congresso parasse de monetizar vidas em
bilhões para autorizar investigação, seja por crime de responsabilidade, seja
comum, ou ambos.
Janeiro, 2021, Bolsonaro no dia em que mais pessoas morreram em Manaus: "A hidroxicloroquina, a azitromicina, ivermectina, a Anitta, zinco, vitamina D têm dado certo". Fevereiro: "Começam a aparecer os efeitos colaterais das máscaras". Março. "Chega de frescura, de mimimi, vão ficar chorando até quando?". Abril: "Não vai ter lockdown". Maio: "Tem uns idiotas aí, o 'fique em casa'". Junho: o escândalo de suspeita de corrupção na compra de vacina.
Julho: "Ou fazemos eleições limpas no
Brasil ou não temos eleições". Agosto: "Aquele filho da puta do
Barroso"; e setembro: "Qualquer decisão do senhor Alexandre de
Moraes, este presidente não mais cumprirá". Outubro, mentindo:
"Vacinados [contra a Covid] estão desenvolvendo a síndrome da
imunodeficiência adquirida [Aids]". Novembro: suspeitas de interferência
no Enem. Dezembro: "Não tá havendo morte de criança que justifique algo
emergencial".
Carolina
Maria de Jesus, sábia que era, encerrou o "Quarto de
Despejo" com a efeméride da virada do ano: "Despertei com o apito da
Gazeta anunciando o Ano Novo (...) Pedi para abençoar o Brasil. Espero que 1960
seja melhor do que 1959. Sofremos tanto no 1959 que dá para a gente dizer:
'vai, vai mesmo! Eu não quero você mais. / Nunca mais!'".
Meu desejo é que, em 2022, Bolsonaro e seu
entourage encerrem o ano vindouro perdedores, nas eleições, e presos, na
Justiça. A resolução para o próximo ano deste país deve ser para que isso
ocorra. E que se vá, vá mesmo!
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