O Globo
Quando menos se espera, chega o Natal. E
com ele, os inevitáveis balanços de fim de ano. Na sexta-feira, Paulo Guedes
apresentou o seu. Vendeu um país imaginário, onde a economia decola e a
democracia vive um momento de esplendor. “Se eu tivesse que fazer uma síntese
de 2021, eu diria que o Brasil se reergueu”, proclamou o ministro. Era só o
começo de uma sessão de duas horas e meia de autoelogios.
Com a economia em recessão técnica, Guedes fez mais um discurso triunfalista. “As previsões de que o Brasil ia dar errado falharam. O país está de pé”, disse. Ele insistiu na tese da retomada em V, que nunca se confirmou nos números oficiais. “A economia voltou em V. Não era um V de virtual”, garantiu. Na véspera da entrevista, o Banco Central reduziu para 1% a previsão de crescimento em 2022.
Apesar da carta branca para conduzir a
economia, Guedes tentou terceirizar a culpa pela alta da inflação, pelo
derretimento do real e pela volta da fome. Ele atribuiu a desvalorização da
moeda à “politização” do debate econômico. “O dólar vê essa confusão toda,
escuta esse barulho todo e fica nervoso”, teorizou.
Ao mencionar a fome, o ministro reclamou da
imprensa. “A mídia tá dizendo: ‘Paulo Guedes empobreceu as pessoas, botou as
pessoas para comer osso’. Pô, você contribuir para um país com pessoas que
falsificam a realidade e te criminalizam... não é bom”, queixou-se.
Ele também criticou a pressão para
descongelar os salários de servidores. Ao ser lembrado de que acabou de dar
aval a um aumento para policiais, voltou a atacar o noticiário. Disse que só
repassou um “pedido político” do presidente Jair Bolsonaro. “Aí a mídia diz que
o Guedes está pedindo aumento. Estou fazendo um discurso público contra
reajustes, não pedi isso”, alegou, falando de si na terceira pessoa.
Esperar autocrítica de Guedes é como
acreditar em Papai Noel. Ainda assim, o ministro poderia ter mais respeito pela
inteligência alheia. Em 2021, Bolsonaro ameaçou o Supremo, atacou o sistema
eleitoral e ensaiou um golpe à luz do dia. No balanço do ano, o ministro disse
que a preocupação com a escalada autoritária é coisa de quem vê “fantasmas”.
“Surpreendemos o mundo com o funcionamento da nossa democracia”, discursou.
Questionado sobre a pandemia, Guedes disse
confiar no ministro Marcelo Queiroga, porta-voz do negacionismo do chefe, e
acusou a oposição de “usar cadáveres para fazer política”. Apesar das lamúrias,
ele encerrou a entrevista sem ofender os funcionários públicos, a primeira-dama
da França, as domésticas que deixaram de ir à Disney ou o filho do porteiro que
sonhava com a universidade. Deve ter sido o espírito natalino.
O lobby do
General Lexotan
Ameaçar a democracia e escancarar a
Amazônia para o garimpo não são os únicos passatempos de Augusto Heleno, o
General Lexotan. Nas horas vagas, ele também atua como pistolão em favor de
amigos e assessores.
O ministro agora quer promover a embaixador
um diplomata lotado em seu gabinete no Planalto. O lobby já foi registrado no
protocolo do Itamaraty.
Em ofício timbrado, o general Carlos
Penteado, secretário-executivo do GSI, disse que Alsina Junior é “amplamente
conhecido e admirado pelas Forças Armadas”. E informou que Heleno vai procurar
o chanceler Carlos França para reiterar o pedido pessoalmente.
A próxima rodada de promoção de diplomatas
está marcada para janeiro.
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