Blog do Noblat / Metrópoles
Bolsonaro será vista como uma maldição na
história do Brasil. Mas não será a única que caracteriza nossa história
Quem observa a política e a realidade
social no presente, tem razão dese assustar com as maldições que pesam sobre
nossa história, é preciso olhar adiante para perceber o potencial que temos, se
formos capazes de reorientar nosso destino nacional.
Por sua estupidez e maldade no tratamento
da epidemia, pela desmoralização do país no exterior, pela desconstrução de
nosso sistema científico, pela desconfiança sobre a as eleições e ameaças à
democracia, a presidência de Bolsonaro será vista como uma maldição na história
do Brasil. Mas não será a única que caracteriza nossa história, e de fato ela é
consequência de outras anteriores que amarram há séculos nossa evolução
civilizatória.
A estrutura escravocrata por quase toda nossa história, submetendo parte de nossa população ao trabalho escravo deixou a maldição que até hoje pesa provocando racismo, aceitação da desigualdade, da corrupção e da violência. Como irmão da escravidão, o latifúndio, imposto desde as capitanias hereditárias, deixou a maldição da terra como reserva de valor nas mãos de especuladores e não como fator de produção nas mãos dos trabalhadores.
O Brasil sofre a maldição do desrespeito
aos limites dos recursos nacionais: ecológicos, fiscais, urbanos, sociais.
Aceitando-se depredar os patrimônios como se fossem infinitos. O resultado é a
degradação ambiental, as cidades transformadas em “monstrópoles”, a moeda
desvalorizada sistematicamente por inflação.
Em parte, isto foi uma exigência da
maldição do desenvolvimento industrial baseado sobretudo na indústria
automobilística. Esta opção exigiu concentrar renda, endividar o Estado e as
famílias, degradar o meio ambiente, desorganizar as finanças públicas e
individuais.
Esta maldição foi possível por causa da
aliança maldita entre políticos populistas e economistas irresponsáveis,
incapazes de adaptar teorias importadas à nossa realidade cultural.
Talvez a maior e mais permanente maldição
esteja no desprezo à educação de base. Por séculos temos descuidado de
implantar um sistema educacional que assegure escola com máxima qualidade a
cada criança brasileira, independente da renda e do endereço de sua família.
Esta opção histórica levou à formação de uma economia com baixa produtividade,
e uma sociedade desigual, violenta, sujeita à política corrupta e populista. A
maldição da deseducação é a mãe de todas as maldições históricas que
caracterizam o Brasil, de Cabral a Bolsonaro.
Da mesma maneira, é na observação do
desafio educacional que podemos encontrar otimismo para o futuro do Brasil. Se
o païs se une em torno a uma revolução que assegure educação de qualidade para
todas nossas crianças, no prazo de uma geração, o Brasil poderá mobilizar o
maior de nossos recursos: os cérebros de nossa população. Neste século do
Conhecimento, com nossa imensa riqueza natural, com o ativo econômico já
implantado apesar dos erros, aliados à população educada, o Brasil pode dar o
salto civilizatório que vem sendo impedido pelas maldições do passado.
*Cristovam Buarque foi ministro, governador e senador
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