O Estado de S. Paulo
Bolsonaro ‘ripou’ quem lhe desagradou e está sendo ‘ripado’ pelo eleitor
Ao assumir a Presidência, uma das primeiras
providências de Jair Bolsonaro foi punir o fiscal do Ibama que o multou por
pesca ilegal em santuário ecológico. Uma mesquinharia e o prenúncio de que
estava disposto a fazer o que bem entendesse, impor suas próprias convicções e
visões de mundo e usar os instrumentos de poder em favor dele e dos filhos,
amigos e aliados e contra quem lhe desagradasse.
Não sossegou até tirar o delegado Maurício
Valeixo da direção-geral da PF e o ex-juiz Sérgio Moro do Ministério da
Justiça. Moro, bem mais popular do que ele, não admitia a ingerência política
do presidente na PF, órgão de Estado, armado e responsável por investigações,
logo, autônomo por definição.
Valeixo foi apenas a vítima mais lustrosa na PF. Remoendo desde 2018 a antipatia pelo primeiro delegado responsável por sua campanha, Bolsonaro tratou de afastá-lo ao descobrir, no tenso 7 de Setembro, que ele ocupava uma função chave na PF, onde a lista de perseguidos é grande.
Mas não para aí. Bolsonaro “ripou” o
presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
após o embargo de uma obra do bolsonarista Luciano Hang. Como “ripou” a cúpula
do Inmetro e um candidato ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) para nomear
quem fizesse o jogo das empresas. Não dá uma palavra sobre desemprego e fome,
mas cuida bem dos endinheirados.
Os médicos Luiz Henrique Mandetta e Nelson
Teich caíram por não se sujeitarem a um presidente que dá de ombros para a
ciência e os órgãos técnicos do governo e que pôs um capacho no Ministério da
Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, até achar Marcelo Queiroga, um
médico disposto a adotar a máxima de que “um manda, o outro obedece”.
Em vez de comemorar a vacinação de 67% dos
brasileiros com a dose completa, Queiroga titubeia e tropeça no passaporte de
vacinas, na imunização de crianças e no apagão do Conecte SUS. Por quê? “O que
manda” combate a vacina, não o vírus.
Na contramão de Pazuello e Queiroga, o
contra-almirante médico Antonio Barra Torres descolou-se das guerras pessoais
de Bolsonaro contra máscaras e vacinas e a favor da cloroquina,
transformando-se no novo alvo n.º 1. Mas não pode ser “ripado”. Bolsonaro pediu
os nomes dos técnicos da Anvisa que deram parecer pela vacinação de crianças,
como nos EUA e em 30 outros países, e Barra Torres reagiu: lideraria a lista.
É fácil, portanto, entender por que a
aprovação, o apoio e os votos de Bolsonaro esfarinham e ele é o grande eleitor
de Luiz Inácio Lula da Silva. Quem está sendo “ripado” é Jair Messias
Bolsonaro.
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