Folha de S. Paulo
Para cada teste computado pelo sistema,
quase um passou abaixo do radar
Pelo Datafolha, 42
milhões de brasileiros acima de 16 anos já tiveram Covid-19, com
diagnóstico confirmado por um teste laboratorial. Pelos registros oficiosos,
foram, em todas as faixas etárias, 23 milhões.
É uma diferença brutal, especialmente quando se considera que, no Brasil, apenas serviços credenciados puderam aplicar testes e eles têm a obrigação de informar as autoridades de todos os resultados. O número de casos "perdidos" deveria, portanto, ser muito baixo ou mesmo zero. O que se vê, porém, é que, para cada teste computado pelo sistema, quase um passou abaixo do radar.
O principal suspeito para o nível vexatório
de subnotificação é a falta de padronização. Embora a pandemia já tenha dois
anos, ainda não existe uma regra única para o envio e a contabilização dos
casos.
Em determinados lugares, os laboratórios e
farmácias enviam os dados para a autoridade municipal, em outros, para a
estadual, em outros ainda, vão direto para o Ministério da Saúde. O que cada
esfera faz dos números que recebe é um mistério ainda maior. O governo federal
gosta de desaparecer com eles, mas nem o sumiço é aplicado de forma consistente
para oferecer um padrão confiável.
E o problema vai muito além da pandemia de
Covid-19. Gostamos de pensar o avanço da medicina como uma história de
descobertas e invenções revolucionárias. Em parte é isso mesmo. Mas o que mais
tem contribuído para a segurança e a eficácia de procedimentos médicos é a
análise obsessiva dos dados que as próprias instituições produzem e sua tradução
em melhores protocolos e padronizações. Se novas vacinas desenvolvidas em tempo
recorde são fundamentais, coisas como a adoção de "checklists" e
melhorias nas medidas de controle de infecção hospitalar também o são.
A chave aqui é gerar dados, entendê-los e transformá-los em ganhos incrementais concretos. Nós estamos produzindo dados e os jogando num buraco negro.
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