Folha de S. Paulo
Não é bom ter ferramentas de comunicação
sem controle das autoridades?
O Brasil deve bloquear o Telegram?
É tentador enamorar-se dessa tese, considerando que o aplicativo se recusa até
a conversar com a Justiça Eleitoral sobre medidas para reduzir as fake news,
que parecem beneficiar desproporcionalmente a extrema direita. Mas a pergunta
mais relevante talvez seja outra. É bom ou mau que existam ferramentas de
comunicação interpessoal que não estejam sob controle das autoridades de um
país?
A resposta é contextual. A maioria de nós corretamente torce o nariz para mentiras deslavadas, em especial quando se acredita que elas podem influir no resultado de eleições. A maioria de nós, contudo, também aplaudiu os jovens que foram às praças para tentar derrubar ditaduras durante a Primavera Árabe, o que só foi possível porque os governos locais não tinham controle sobre as comunicações na internet. A Primavera Árabe se revelou depois um fiasco, mas isso não altera a tese de que há situações em que é bom que a rede seja um território avesso a controles.
Devemos, muito pragmaticamente, tentar
resolver nosso problema presente, que são as "fake news", ou devemos,
vestindo o véu da ignorância rawlsiano, optar por uma posição mais
universalista e principista de defesa da liberdade que as pessoas devem ter de
acessar qualquer site ou app do planeta? O dilema é difícil mesmo.
O Partido Democrata americano passou por
algo análogo há poucos dias, quando teve de decidir sobre o
"filibuster", um mecanismo que permite à minoria dos senadores
obstruir votações quase indefinidamente. Os republicanos usaram esse
instrumento para impedir a aprovação de um projeto de lei federal que ampliaria
o direito de voto. Dois senadores democratas, contudo, foram contra alterar as
regras do "filibuster", lembrando que haverá eleições no fim do ano e
é provável que os democratas se tornem a minoria da casa.
Devemos só fazer as perguntas fáceis ou
também as difíceis?
Nenhum comentário:
Postar um comentário