Revista Veja
Para conseguir governar, o petista terá de anular bolsonaristas
Mandetta se inviabilizou rápido. Eduardo
Leite tropeçou na prévia do PSDB. Doria está sendo abandonado pelo próprio
partido. Ciro até hoje não encontrou seu caminho. Moro, após uma largada forte,
estacionou. Simone Tebet é vista por alguns com esperança, mas é desconhecida
do eleitorado e não une o próprio partido, o MDB, cuja parcela nordestina está
com Lula.
Os meses passam e a terceira via não
desencanta.
Lula tem lugar garantido no segundo turno e
Bolsonaro, com 20% cristalizados, não sofre ameaça. Os petistas preveem vitória
no primeiro turno, mas isso não aconteceu nem quando Lula estava no auge da
popularidade, é improvável que aconteça agora. Se o cenário não mudar
radicalmente, o petista deve vencer — mas só no segundo turno.
Ganhar eleição, porém, é muito mais fácil do que governar, e governar o Brasil entre 2023 e 2026 será mais difícil para Lula do que jamais foi. Fernando Henrique legou ao PT um país arrumado e o PSDB ofereceu uma oposição sem dentes; a herança de Bolsonaro será — esta, sim — maldita: crise econômica e fiscal, com dólar, inflação, juro e desemprego nas alturas.
O bolsonarismo, que antes nem existia,
estará vivo e forte e fará uma oposição sistemática e desleal no Congresso, nas
ruas e nas redes. Sem aliança ao centro, Lula terá de governar com o Centrão,
insaciável depois que obteve o controle do Orçamento. “Todos que governaram com
o Centrão se lascaram”, ensinou Ciro Gomes (Lula foi para a cadeia por causa
disso e é o exemplo definitivo). A crise para a metade do mandato estará
encomendada desde antes da eleição.
“O bolsonarismo fará uma oposição
sistemática e desleal no Congresso, nas ruas e nas redes”
Para garantir que, caso vença, conseguirá
governar, Lula deve alcançar dois objetivos que se misturam. Um é vencer no
primeiro turno, dando uma demonstração de força capaz de botar uma focinheira
no bolsonarismo e outra no Centrão; com tanta legitimidade, até os antipetistas
moderados terão menos má vontade. O outro é criar, antes do início da campanha eleitoral,
uma aliança com o centro democrático que lhe permita prescindir do Centrão —
aliança essa que é também a chave para unir o antibolsonarismo e matar a
eleição no primeiro turno.
Se deixar para fazer a aliança ao centro no
segundo turno, Lula (e o Brasil) enfrentará problemas em série. Bolsonaro terá
quase um mês entre um turno e o outro para criar tumulto e organizar sua
resistência. Declarada a derrota, gritará que houve fraude e ordenará seu
“ataque ao Capitólio”. O bolsonarismo sairá forte, acreditando na fraude, e não
dará trégua ao governo Lula. E se o governo for ruim — sem o apoio ao centro,
isso é quase certo — e o bolsonarismo estiver forte, a chance de Bolsonaro ou
algum filho voltar em 2026 não é desprezível.
Lula não é bobo, está conversando com gente
de todo tipo. Apesar disso, ou por isso mesmo, seu partido radicaliza quanto
pode, organiza abaixo-assinado contra Alckmin, inventa propostas econômicas
malucas etc. Mas todo mundo sabe que Lula controla o PT: se há vozes se
levantando contra o centro, é porque o chefe permite.
Se Lula quer não só vencer, mas também
governar em paz, precisa enquadrar sua tigrada. Logo.
Publicado em VEJA de 9 de fevereiro de 2022, edição nº 2775
Um comentário:
Verdade,o PT e o Lula tem lá seu valor,o que estraga são os militantes petistas insuportáveis,ativista em qualquer área costuma ser chato,mas nada comparável aos bolsominions,claro.
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