Folha de S. Paulo
No Dia do Trabalhador, a ordem é esticar a
corda até arrebentar
Primeiro de Maio bom é (ou era) na Quinta da Boa
Vista. Piquenique no gramado, passeio de pedalinho e trenzinho, resenha no
pagode chinês e no fim da tarde um grande show de música clássica ou popular
nos jardins projetados pelo francês Glaziou. Arrisco a dizer que neste ano o
antigo Paço de São Cristóvão, onde nasceram Pedro 2º e a princesa Isabel,
estará vazio de trabalhadores. Falta dinheiro até para passagem de trem, quanto
mais para churrasquinho de gato.
Tradicional data de reivindicações da esquerda, o Dia do Trabalhador também será usado para manifestações da extrema direita em Brasília, São Paulo, Rio e outras capitais. Para realizá-las dinheiro não falta, nem apoio da máquina estatal. A intenção é reviver o Sete de Setembro do ano passado, quando houve um ensaio de golpe. A ordem é esticar a corda até arrebentar.
Dos oradores, não se deve esperar palavra
sobre o desemprego de 12 milhões de pessoas, um dos mais altos
do mundo, ou a inflação em foguete (o preço do gás de cozinha é o
maior do século). Tampouco sobre a situação de pobreza que atinge metade da população.
O alvo mais uma vez será o STF, com pedidos
para implantação da ditadura militar e novos AI-5. Discurso de desprezo à
democracia, camuflado como liberdade de expressão, que Bolsonaro e os
generais do Planalto adotam desde o começo do governo.
No Congresso, o tecido vai se esgarçando.
Depois de Carla Zambelli propor "anistia geral" a parlamentares condenados por
manifestações antidemocráticas, Daniel Silveira foi indicado para compor a
Comissão de Constituição e Justiça. Um deboche. Líder da bancada evangélica,
Sóstenes Cavalcante apresentou um projeto para dificultar a perda de mandato,
alterando o número de votos, dos atuais 257 para 340.
Com ataques ao sistema eleitoral, Bolsonaro
desvia a atenção do caos econômico e prepara a cama do golpe. Já tem gente
louca para se jogar nela.
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