Manter viva a memória e apurar a verdade sobre
tudo o que ocorreu é fundamental para fortalecer a consciência democrática que
poderá bloquear qualquer tentativa de retrocesso institucional. Ditadura nunca
mais! Tortura nunca mais! Democracia e liberdade sempre!
No entanto, os mais jovens precisam saber que, em 1979, houve um pacto tácito, depois de muita luta e discussão, entre governo e oposição, dentro da correlação de forças à época, para que a anistia fosse um perdão tanto aos militantes que lutaram contra a ditadura, como aos torturadores e agentes da repressão.
Minhas primeiras lutas políticas, para além
dos muros da militância estudantil, foram as eleições de 1978 apoiando
candidatos do MDB e a campanha pela anistia ampla, geral e irrestrita. Fui
diretor do Comitê Brasileiro de Anistia - secção Juiz de Fora. Vivi
intensamente este momento histórico.
O Projeto de Lei 14 de 1979 foi enviado ao Congresso
pelo presidente João Baptista Figueiredo em junho. A Comissão Mista do
Congresso para avaliação do PL elegeu, como de praxe, um relator pertencente à
ARENA, o deputado paraibano Ernani Satyro. À oposição caberia indicar o
presidente da comissão. E foi indicado pelo MDB ninguém mais, ninguém menos, do
que o Menestrel das Alagoas, o timoneiro da anistia, o Senador Teotônio Vilela,
que saiu do casulo das paredes do parlamento e se jogou na estrada visitando
presos políticos nos quatro cantos do país. Com isso, conseguiu, de forma
destemida, mobilizar a sociedade e a imprensa em torno da luta pela anistia.
Quem quiser conhecer essa saga, leia o livro SENHOR REPÚBLICA, do jornalista
Carlos Marchi (Ed. Record).
Queríamos uma anistia ampla, geral e irrestrita,
sem a inclusão dos torturadores. O governo mandou um texto que incluía esses e
excluía os guerrilheiros de esquerda condenados por crimes violentos. Não
tínhamos maioria no Congresso e mobilização social suficiente. Teotônio tentou
construir um texto alternativo mais avançado. Mas, ao final e ao cabo, se impôs
a aprovação do texto do governo. A lei 6.683 de 1979, foi sancionada em 28 de
agosto.
Com a vitória parcial e possível, voltaram ao
país, entre outros, Brizola, Arraes, Prestes, Julião, Gabeira. Duzentas pessoas
foram excluídas e embora livres, continuavam sem seus direitos políticos, só
restituídos, em 1985, pelo presidente Sarney. Dos 50 presos remanescentes,
todos foram soltos depois, pelas mudanças introduzidas na LSN, pela revisão dos
processos no STM e pelo indulto presidencial decretado em novembro de 1979. Foi
um grande avanço. Mas, não tenhamos dúvidas, a anistia, que significa
esquecimento e perdão, foi recíproca.
Cultivar a memória para que não repitamos erros, sempre. Reabrir feridas, de uma forma ou outra, cicatrizadas, não é bom caminho. O Brasil quer avançar rumo ao futuro e não ficar hipnotizado pelo retrovisor da história.
*Marcus Pestana, Presidente do Conselho Curador ITV – Instituto Teotônio Vilela (PSDB)
Nenhum comentário:
Postar um comentário