Folha de S. Paulo
O golpismo de Bolsonaro tem a mesma
cadência da politização das Forças Armadas
Jair Bolsonaro é um presidente com
intenções e atos golpistas. Provou isso ao inflamar
manifestação a favor de intervenção militar, em frente ao QG do
Exército; ao usar o 7
de Setembro para um protesto pelo silenciamento do STF, quase invadido
nos dias seguintes; ao confrontar o Judiciário com o perdão
a Daniel Silveira; e ao atacar o sistema eleitoral.
O golpismo de Bolsonaro, para que tenha
êxito pelo menos no campo da retórica, passa por um cargo estratégico no
governo: o de ministro da Defesa. O presidente quer as Forças Armadas alinhadas
ao seu projeto e, a seu modo, usa os generais colocados na Defesa –já foram
três em três anos.
Por isso, quando o general Paulo Sérgio de Oliveira aceitou deixar o comando do Exército para comandar a Defesa, no ano em que Bolsonaro tentará a reeleição, a dúvida não era se seria arrastado ao golpismo, mas quando.
Bastaram 24 dias. O general, na noite do
último domingo (24), divulgou
uma nota para rebater o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que
afirmou existir orientação
para as Forças Armadas atacarem o sistema eleitoral.
O texto de Oliveira, submetido
previamente a Bolsonaro, fez críticas duras a um integrante do Supremo;
citou a necessidade de mais segurança no processo eleitoral; e colocou as
eleições como questão de "soberania e segurança nacional".
O gesto do ministro da Defesa municiou
Bolsonaro em mais uma ofensiva golpista, apenas três dias após a nota. O
presidente apontou possibilidade de suspeição
da eleição e chegou a sugerir que as Forças Armadas participem de uma
contagem paralela dos votos.
O golpismo de Bolsonaro tem a mesma
cadência da politização das Forças. Os dois movimentos crescem em proporção
igual.
O presidente segue sem ser incomodado, e
ouve "sims" de seus generais para instrumentalização da Defesa,
descredibilização das urnas eletrônicas e desfile de tanques
enfumaçados em frente ao Planalto. Bolsonaro está à vontade para ser
golpista.
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