quinta-feira, 7 de abril de 2022

Maria Hermínia Tavares: Vencer Bolsonaro é difícil, mas possível

Folha de S. Paulo

Esquerda e centro dependerão dos votos que resgatarem da candidatura oficial

Leitura mandatória para todos quantos se preocupam com o país, o artigo "Barômetros ideológicos", dos cientistas políticos Antonio Lavareda e Vinicius Silva Alves, publicado nesta Folha no dia 3 deste mês, contém uma boa tese e uma notícia ruim.

A boa tese: quando se considera a votação obtida pelos grandes blocos ideológicos —esquerda, centro e direita—, os resultados no plano municipal antecipam os das eleições seguintes para o Planalto, o Congresso e os governos e assembleias estaduais.

Baseados em um estudo meticuloso de todos os pleitos desde 1985, os autores demonstram que, embora ocorram dois anos antes, as disputas locais estão articuladas com as seguintes: o que ocorre nos municípios tende a se reproduzir nos outros níveis da Federação. Assim, por exemplo, quem tivesse ouvido com a atenção devida o proverbial recado das urnas em 2016 não teria se surpreendido tanto com o desastre da esquerda em 2018.

Nos municípios —onde realmente vivem as pessoas, como lembrava o sábio Ulysses Guimarães—, vereadores e prefeitos são cabos eleitorais importantes, alicerces de candidaturas aos cargos em jogo nas esferas estaduais e federal.

A notícia ruim: o ciclo de ascensão da direita está longe de se ter esgotado. O bloco só tem crescido nos últimos seis anos e jamais foi tão rico em matéria de prefeituras conquistadas e tamanho das bancadas municipais. Em 2012, rivalizava com o centro tradicional e perdia para a esquerda em proporção de prefeitos (embora os superasse nos legislativos locais). De lá para cá, a vantagem da direita se expandiu sem cessar nos dois ramos do poder municipal.

A conclusão dos autores é taxativa: para vencer, esquerda e centro dependerão dos votos que forem capazes de resgatar da força de gravidade da candidatura oficial. Difícil, mas não impossível.

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Como se não bastasse, o saldo da migração de deputados federais de uma sigla para outra, permitida no período de livre trânsito partidário, foi além do crescimento de legendas em que se arrima Bolsonaro —PL, Republicanos e PP. O centrão, agora menos dependente de agremiações nanicas, terá um núcleo mais sólido para marchar com o ex-capitão.

O capital das oposições, como se sabe, consiste na reprovação do presidente e de seu governo pela maioria dos brasileiros. Não é de desprezar, porém, a parcela dos seguidores de um líder que abomina as instituições democráticas e mergulha o país na mais abjeta miséria moral, expressa na linguagem chula, no desrespeito às regras de convívio civilizado e no culto à violência que autoriza seu filho a fazer piada com um caso de tortura de uma jovem grávida, sob o regime militar.

 

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