Folha de S. Paulo
Esquerda e centro dependerão dos votos que
resgatarem da candidatura oficial
Leitura mandatória para todos quantos se
preocupam com o país, o artigo "Barômetros
ideológicos", dos cientistas políticos Antonio Lavareda e Vinicius
Silva Alves, publicado nesta Folha no
dia 3 deste mês, contém uma boa tese e uma notícia ruim.
A boa tese: quando se considera a votação
obtida pelos grandes blocos ideológicos —esquerda, centro e direita—, os
resultados no plano municipal antecipam os das eleições seguintes para o
Planalto, o Congresso e os governos e assembleias estaduais.
Baseados em um estudo meticuloso de todos
os pleitos desde 1985, os autores demonstram que, embora ocorram dois anos
antes, as disputas locais estão articuladas com as seguintes: o que ocorre nos
municípios tende a se reproduzir nos outros níveis da Federação. Assim, por
exemplo, quem tivesse ouvido com a atenção devida o proverbial recado das urnas
em 2016 não teria se surpreendido tanto com o desastre da esquerda em 2018.
Nos municípios —onde realmente vivem as pessoas, como lembrava o sábio Ulysses Guimarães—, vereadores e prefeitos são cabos eleitorais importantes, alicerces de candidaturas aos cargos em jogo nas esferas estaduais e federal.
A notícia ruim: o ciclo de ascensão da
direita está longe de se ter esgotado. O bloco só tem crescido nos últimos seis
anos e jamais foi tão rico em matéria de prefeituras conquistadas e tamanho das
bancadas municipais. Em 2012, rivalizava com o centro tradicional e perdia para
a esquerda em proporção de prefeitos (embora os superasse nos legislativos
locais). De lá para cá, a vantagem da direita se expandiu sem cessar nos dois
ramos do poder municipal.
A conclusão dos autores é taxativa: para
vencer, esquerda e centro dependerão dos votos que forem capazes de resgatar da
força de gravidade da candidatura oficial. Difícil, mas não impossível.
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Como se não bastasse, o saldo da migração
de deputados federais de uma sigla para outra, permitida no período de livre
trânsito partidário, foi além do crescimento de legendas em que se arrima
Bolsonaro —PL, Republicanos e PP. O centrão, agora menos dependente de
agremiações nanicas, terá um núcleo mais sólido para marchar com o ex-capitão.
O capital das oposições, como se sabe,
consiste na reprovação do presidente e de seu governo pela maioria dos
brasileiros. Não é de desprezar, porém, a parcela dos seguidores de um líder
que abomina as instituições democráticas e mergulha o país na mais abjeta
miséria moral, expressa na linguagem chula, no desrespeito às regras de
convívio civilizado e no culto à violência que autoriza seu filho a fazer piada
com um caso de tortura de uma jovem
grávida, sob o regime militar.
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