O Estado de S. Paulo
Regras do jogo eleitoral, sistema de
governo e eleitorado difuso ajudam Lula-Bolsonaro
O que conspira contra candidaturas de
terceira via é muito mais do que a ausência, até aqui, de nomes fortes entre os
candidatos e a hipocrisia/artimanhas de líderes partidários. O que conspira é a
combinação das regras da eleição proporcional com o aumento do poder do
Legislativo no sistema de governo, e a essencial formação de bancadas nutridas.
Situação agravada por um eleitorado que não diferencia “esquerda” ou “direita”.
O voto para deputado federal é “pessoal”, mas vai para a legenda do candidato no imenso distrito (o Estado) no qual disputa a eleição. Os donos do partido precisam de puxadores de voto, pois o que interessa na distribuição das cadeiras é o quociente partidário. “Puxadores” de votos são cada vez mais (sub)celebridades, representantes de corporações (igrejas, por exemplo) e, óbvio, a força do nome de um presidenciável em determinada região. Por isso um mesmo partido se interessa em apoiar Lula numa parte do País e Bolsonaro em outra.
É perfeitamente lógico, portanto, que as
grandes agremiações se submetam às questões regionais, pois delas dependem a
formação das bancadas e a consequente distribuição das ferramentas de poder num
sistema no qual o Executivo se enfraqueceu consideravelmente. Nesse sentido, os
nomes de Lula ou Bolsonaro ajudam aqui e atrapalham ali, mas os da terceira
via, até aqui, não ajudam em lugar algum a engordar o quociente
partidário.
Para os operadores da política, ser
derrotado nas próximas eleições é ficar com poucos deputados – daí também as
federações unidas pelo acesso aos fundos Partidário e eleitoral, e nem tanto
para ter um candidato à Presidência. O “centrão”, que abrange as siglas
“clássicas” dessa parte do espectro, mas também fatias de PSDB, MDB e União
Brasil, é o retrato sem retoques do resultado das regras do jogo mais a
“evolução” do sistema de governo. E, goste-se ou não, está ali nesse “centro” o
espelho da “alma” do eleitor brasileiro.
Cuja demanda majoritária, indicam as
pesquisas qualitativas, é “de direita”. Sem que ser “de direita” consiga nas
pesquisas ser associado claramente a qualquer definição clássica da ciência
política. O “público-alvo” a ser conquistado pela terceira via é uma proporção
do eleitorado (uns 30% ou até mais). Mas isso é apenas um número, difuso e
disperso, que não está, até aqui, agregado a um nome, a uma legenda e, muito
menos, a uma plataforma “política”.
Regras do jogo, partidos fracos (em termos
de programas e ideologias), piora do sistema de governo (que já era ruim) fazem
da “polarização” entre Lula e Bolsonaro a continuação do que já temos. Que é
paralisia e estagnação.
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