O Globo
O Brasil não melhorou, o mundo é que piorou
bastante. Isso é o que os economistas explicam, em resumo, sobre a forte
entrada de capital nos últimos meses que provocou uma queda grande do dólar. A
boa notícia é que investidores estrangeiros que não estavam nem um pouco
interessados em Brasil, tempos atrás, agora vieram com força. Mesmo assim,
estão entrando de forma temporária e focada. O objetivo principal é a bolsa, e
nela, as empresas de commodities e bancos.
Mesmo se a guerra contra a Ucrânia acabasse hoje, a Rússia continuaria sendo vista como um parceiro não confiável. Está fora do radar dos investimentos, até porque centenas de empresas viraram as costas para o país de Vladimir Putin. Outros emergentes estão com problemas. Na Turquia, o presidente intervém no Banco Central na hora que quer. Na América Latina, a Argentina está no FMI, o Chile, que sempre foi o darling do mercado, está com um presidente novo e a Constituição sendo escrita. O Peru está com oito meses de governo, quarto gabinete e terceiro pedido de impeachment. Para se ter uma ideia de como o capital está correndo o mundo atrás de rentabilidade, mesmo o Peru estando nessa enorme crise houve uma entrada de capital na bolsa e a moeda se valorizou. O dólar caiu 7,2% diante do sol peruano.
No Brasil, o dólar caiu 15% em relação ao
real este ano e isso ajudará a melhorar o ponto mais preocupante da conjuntura
que é a inflação persistentemente alta. Amanhã sairá o número de março do IPCA
e o indicador pode ser de 1,39%, levando o acumulado a 11%. E não vai parar aí
porque as projeções indicam nova alta em abril, o que levará o índice a perto
de 12%.
Os economistas dizem que essa taxa é alta,
mas é diferente de 2015-2016 porque agora o mundo inteiro está inflacionado.
Além disso projetam uma queda até o final do ano, mas até o BC admite que
ficará acima do teto da meta. E as projeções estão perto de 8%.
Para o consumidor que estará no caminho da
urna fará pouca diferença saber que o mundo também está com altos índices. Ele
quer saber é do desconforto no bolso. Além do mais, a inflação nossa tem também
um componente local. O governo tem sido um gerador de incerteza.
Basta ver o que houve na Petrobras. Há uma
semana o país fala de Petrobras, e ontem foi anunciado o quarto nome para
ocupar a presidência da companhia, José Mauro Ferreira Coelho. Não há tempo de
cumprir todos os trâmites das leis de compliance da empresa até a
assembleia-geral marcada para o dia 13. A área técnica da Petrobras contudo informa
que pode ser levado à assembleia, mas fica pendente de análise de todas as
etapas internas. Mesmo que não haja mais problema algum, há uma semana o
governo está se afogando em crise numa empresa que deu lucro, que está na área
de commodities, que está em alta, e que portanto tinha tudo para atrair mais
investidores.
Metade da balança comercial brasileira é
soja, petróleo e minério de ferro. Os investidores estão interessados nesses
setores. Mas a avaliação de economistas é que a aposta é por um retorno financeiro
rápido, não é uma avaliação de que o Brasil é um país no qual querem estar nos
investimentos de longo prazo. “É uma janela de captação de dinheiro na bolsa e
em alguns setores”, disse o executivo de um grande banco.
Outra razão de o dólar ter caído tanto é o
fato de que a desvalorização do real havia sido exagerada. No começo da
pandemia o dólar estava em R$ 4,00, subiu para R$ 5,70 no fim do ano passado.
Houve uma desvalorização de 42%, isso foi o pior desempenho das moedas dos
emergentes. Em grande parte, aconteceu pelas perturbações políticas e
institucionais criadas pelo presidente. Da mesma forma que houve agora na
Petrobras, Jair Bolsonaro cria as crises e fica se debatendo nela.
Bem o Brasil não está. Juros, inflação e
desemprego em dois dígitos, passando para uma eleição polarizada, com juros
futuros aumentando e trajetória da dívida ainda sem reversão. Além disso, o
presidente continua criando sempre ruídos na área institucional. Ele tenta
ameaçar adversários, usando uma linguagem ambígua quando fala sobre ou para as
Forças Armadas. Tudo isso somado é muito ruim. Mas o dólar pode ficar mais
baixo, apesar de todo o estresse, porque o Brasil tem um volume enorme de
reservas e porque o saldo da balança comercial deve subir 25% este ano. Enquanto
não vai embora, esse capital de curto prazo ajuda um pouco a melhorar os
indicadores.
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