Folha de S. Paulo
Vendas no primeiro bimestre ultrapassam as
do período pré-pandemia
Nunca se vendeu
tanto diesel em
um primeiro bimestre quanto neste 2022, pelo menos desde 2000, quando há
números comparáveis. As vendas são quase 7% maiores do que no início de 2020,
antes da epidemia, e 9% maiores do que em 2019. O preço
do combustível, por sua vez, nunca foi tão alto em pelo menos uma década,
em termos reais.
Em tempos menos anormais, não seria de
espantar. A população cresce; a frota de caminhões aumenta de modo relevante,
de acordo com estatísticas da Agência Nacional de Transportes Terrestres ou do
Denatran. Até a produção da economia, o PIB, voltou ao nível de 2020, talvez um
tico mais.
A diferença grande é o preço. Um recurso para pensar a carestia é verificar quanto se perdeu em poder de compra de combustíveis. Por exemplo, considerar quanto o salário médio compra de litros de diesel, por exemplo. No primeiro bimestre deste ano, o rendimento médio mensal do trabalho comprava 31% menos diesel do que em 2020 e 33% menos do que em 2019.
É uma paulada. Mas se compra mais diesel,
mesmo a esse preço. É razoável especular que, quem usa diesel como insumo, como
frotas de caminhões e similares, está conseguindo repassar os aumentos. É
claro, está nos preços dos alimentos e de cargas transportadas em geral,
na inflação
média (no IPCA).
Se o subsídio
do diesel (redução de impostos) tem algum efeito, é pequeno, para
tanta confusão e problema (baratear poluentes, aumentar a dívida pública, pagar
mais juros para mais ricos, intervir em preços etc.). Pior ainda, o subsídio, a
perda de receita do governo, beneficia tanto ricos quanto pobres, em termos
mais ou menos proporcionais. Não faz sentido. Se o governo vai gastar ou deixar
de arrecadar, em situação de crise social e econômica grave, ainda por cima,
tem de ser com os mais pobres.
O consumo de GLP (gás de botijão, para
cozinha) no primeiro bimestre deste ano caiu em relação ao do início de 2020,
cerca de 1,5%. O poder de compra do salário médio em termos de GLP caiu 29% de
2020 para 2022. É o menor em uma década. Ao que parece, quem depende de gás de
botijão está se saindo pior do quem depende de diesel, na média.
O vale-gás ajuda
a remediar a situação. Mas os problemas principais são a depressão econômica, a
pior inflação em quase 20 anos e programas de renda mínima insuficientes.
O consumo de gasolina comum também aumentou
neste bimestre, mesmo com preço recorde na década (para este período do ano). É
5% maior do que no início de 2020, embora não seja recorde desde 2000, como o
diesel (é o maior desde 2018). O poder de compra do salário médio em termos de
gasolina caiu 28% em relação a 2020.
Mas há um pouco de ilusão aqui. O consumo
de etanol hidratado, o "álcool do posto", caiu brutalmente (41%),
pois os preços do combustível não compensam, se comparados à alternativa em
geral imediata, a gasolina. O consumo de gasolina comum e de etanol hidratado
ainda é quase 12% menor do que no início de 2020.
Arrebentar as finanças da Petrobras vai fazer
pouca diferença no preço e causar danos econômicos colaterais. No curto prazo,
resta esperar o fim da guerra, um preço mais comportado do barril e que o dólar
caia ainda um tico. E vale lembrar que, entre 2016 e 2020, "com preço
internacional, com tudo", a gasolina era relativamente mais barata do que
na epidemia e muito mais do que agora. Depende de preço de petróleo, de dólar
(um governo melhor ajuda nisso) e de haver salário. No mais, é esperar milagre,
o que os candidatos à Presidência da República continuam a propagandear.
Nenhum comentário:
Postar um comentário