Folha de S. Paulo
Lira e Bolsonaro mostram que sua obrigação
de prestar contas não é levada a sério
Dia desses, a Folha quis saber dos
principais pré-candidatos a comandar esse país o
que eles pensam do semipresidencialismo em debate na Câmara.
A assessoria de Jair Bolsonaro (PL), como
de praxe, ignorou a pergunta. A de Lula juntou preguiça com desprezo pela inteligência
alheia e disse que o petista ainda não é candidato, logo, não falaria.
Parece uma besteira, mas há aí o sintoma de
um mal maior, a certeza de que eu, político responsável pela gestão de milhões
ou bilhões em recursos públicos, ou candidato a isso, só me manifestarei sobre
aquilo que eu quiser, do jeito que eu achar mais conveniente, no momento em que
julgar adequado, no ambiente controlado que escolher —e se, por ventura,
estiver disposto a tal.
Escolas públicas de Alagoas visitadas
pelo repórter Paulo Saldaña sofrem
com falta de sala de aula, internet, computadores e até água encanada. Para lá
o governo federal enviou não a infraestrutura que deveria ter providenciado há
décadas, mas kits de robótica ao valor unitário de R$ 14 mil.
Empresa de um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), intermediou o negócio e comprou pelo menos parte desses kits por R$ 2.700 cada um. Ou seja, revendeu os kits às prefeituras com um ágio de 420%.
Todo mundo sabe como revolta ser alvo de
injusta suspeita. Dá vontade de sair às ruas gritando e farfalhando documentos
para provar o acerto do gasto feito, a justeza de se cobrar o valor cobrado e a
melhoria que tudo isso trouxe à precária realidade dessas escolas.
Dá muita vontade. Ou deveria dar. A empresa
e o MEC preferiram a mudez. Lira e Bolsonaro se limitam a dizer que não têm
nada a ver com isso apesar de, sim, ambos terem a ver com isso.
Não há razão que justifique políticos
encastelados e a salvo do contraditório em uma República de cem anos e lá vai
pedrada. É dever elementar dar explicações públicas rotineiras de mandos e
eventuais desmandos. Por que se calam?
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