Correio Braziliense
A distância entre o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Bolsonaro vem se
encurtando, enquanto o espaço para uma candidatura alternativa é cada vez mais
restrito
Embora a pré-campanha tenha começado de
forma muita antecipada, em grande medida em razão das prévias do PSDB, que em
vez de unir dividiu ainda mais a legenda, a campanha eleitoral para presidente
da República será curta: começará em 15 de agosto. Até lá, o que está se
decidindo é o grid de largada: quem serão os candidatos para valer e as
respectivas coligações, que garantirão o tempo de propaganda eleitoral gratuita
no rádio e na tevê de cada um. De 2 a 30 de outubro, se houver segundo turno, o
país poderá estar à beira de uma ruptura institucional.
A distância entre o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem se encurtando,
enquanto o espaço para uma candidatura alternativa, nessa pré-campanha, parece
cada vez mais restrito. As pesquisas de opinião apontam uma tendência de
consolidação de votos, em razão de os candidatos serem mais conhecidos, porém,
a eleição ainda está no estágio de “guerra de posições”, ou seja, de ocupação
de espaços e acumulação de forças. Entretanto, como sabemos, as eleições
presidenciais no Brasil são decididas numa “guerra de movimento”, quando a
grande massa de eleitores efetivamente se envolve nos debates eleitorais e decide
o que fazer. Ninguém leva o eleitor para votar pelo nariz.
As últimas pesquisas estão mostrando que o favoritismo de Lula continua inequívoco nas pesquisas de segundo turno, mas seu crescimento estacionou, no primeiro turno. O ex-presidente trabalha para esvaziar os candidatos da terceira via e não para atraí-los no segundo turno. É uma aposta perigosa, que mira uma vitória improvável no primeiro turno, mais não impossível, num cenário de extrema radicalização política. O petista se considera mono opção para derrotar Bolsonaro, o que não deixa de ser uma arrogância.
Bolsonaro joga com as mesmas cartas. Aposta
suas fichas no sentimento antipetista, que parece ser mais encardido do que
Lula imagina. Esse sentimento, diante das fragilidades da chamada terceira via,
alimenta seu crescimento na classe média, para além do impacto do auxílio
emergencial e outras benesses do governo na massa de eleitores de baixa renda.
Setores que haviam se afastado do governo, por causa da pandemia, da recessão e
declarações extremadas de Bolsonaro, estão começando a ver a sua reeleição com
naturalidade, principalmente no meio empresarial.
Ciro
Enquanto isso, a terceira via não empolga,
não consegue se colocar em cena como alternativa de poder. Há um mistério nisso
aí, que tem a ver com a mesmice da narrativa de centro, que não enfrenta o
problema das desigualdades e da exclusão social. Com a desistência do ex-juiz
Sergio Moro, o ex-governador Ciro Gomes (PDT) seria o candidato natural da
terceira via, mas não consegue sair do isolamento. É um político experiente,
mas de temperamento intempestivo. Seu maior problema é político: seu projeto
nacional-desenvolvimentista foi abduzido por Lula e não atrai as forças
políticas de centro. Ciro é uma espécie de patinho feio entre os candidatos da
terceira via.
Doria
O desempenho do ex-governador de São Paulo
João Doria (PSDB) à frente da administração paulista exibe resultados
espetaculares, na infraestrutura, no desenvolvimento econômico, na geração de
emprego, na educação, sem falar na saúde, principalmente nas vacinas.
Entretanto, não consegue capitalizar esses resultados em termos eleitorais. O
ex-governador gaúcho Eduardo Leite faz um piquenique nas articulações da
terceira via, mas seu desempenho à frente do governo gaúcho, principalmente do
ponto de vista fiscal, não chega nem perto do que Doria realizou em São Paulo.
Como se sabe, o Rio Grande do Sul é um estado falido. Talvez a mesmice
explique.
Simone
Simone Tebet é uma incógnita. Por sua atuação no Senado, conquistou a simpatia dos colegas e se tornou uma aposta do presidente do MDB, Baleia Rossi, e do ex-presidente Michel Temer. Ontem, mostrou capacidade de reação à ofensiva feita por Lula junto aos velhos aliados do MDB: a maioria dos diretórios da legenda reiterou apoio à candidatura, que havia sofrido um ataque especulativo do grupo de Renan Calheiros e do ex-presidente José Sarney, que apoiam Lula. Simone poderia ocupar o espaço de Marina Silva na cena eleitoral, mas também está muito contingenciada eleitoralmente, inclusive em Mato Grosso do Sul, seu estado. Encarna uma agenda identitária, que não empolga a grande massa de eleitores, como também Eduardo Leite, embora esteja sintonizada com os novos tempos.
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