O Estado de S. Paulo
Para os caciques partidários pode ser que
não esteja tudo dominado, mas está tudo definido
A excepcional eleição deste ano já tem
resultado conhecido. É a confirmação da vitória do Centrão, do sistema político
tradicional, da fraqueza dos partidos e do degradante nível geral do
Legislativo, não importa o vencedor para o Planalto.
É muito elucidativo constatar o conforto político no qual vive o grande grupo amorfo dessas forças políticas. Consolidaram-se como dominantes – a ponto de se importarem relativamente pouco com o resultado da escolha presidencial.
Esse é o resultado de uma longa linha do
tempo que tem como ponto de partida a saída do regime militar. Mas o controle
que esse grande grupo hoje exerce é inédito.
Seu símbolo maior é o orçamento secreto, apoiado nas emendas do relator, em si uma contradição com os preceitos democráticos básicos de transparência. Bolsonaro foi manietado pelo STF, mas o Legislativo escapou.
Bolsonaro e Lula reconhecem publicamente as
condições políticas e afirmam que sem o Centrão não governam. Não parecem
dedicados a alterar esse estado de coisas, talvez convencidos de que o
fundamental é escapar de um impeachment. É um reducionismo brutal da expressão
“fazer política”.
Diante dessa realidade, o comportamento dos
caciques do Centrão é racional, lógico e previsível. Os que estão hoje no
governo se empenham pela continuidade do acesso aos cofres e máquina públicos.
E no nome do presidente para ajudar a eleger deputados nos distritões estaduais
– base de seu poder.
Os que não são governo falam em terceira
via, pois nela enxergam ferramenta adicional de barganha. Mas não estão
empenhados seriamente em candidaturas competitivas contra os dois líderes das
pesquisas. Consideram alguns donos de partidos lançar seus próprios nomes como
“candidaturas técnicas” à Presidência, mesmo sabendo que não têm a menor chance
de vitória. Assim, não precisam se declarar por Bolsonaro ou Lula antes do
primeiro turno, prejudicando a formação de bancadas.
Nas mãos do Centrão foi consideravelmente
reduzida à imprevisibilidade com o depois das eleições. Atribui-se pouca
probabilidade aos imponderáveis “conhecidos”, como Bolsonaro esticando demais a
corda da ruptura institucional para cima do TSE, por exemplo. Ou Lula
conquistando um arco de alianças tão amplo a ponto de se considerar “garantida”
uma vitória dele em primeiro turno.
É igualmente tido como de baixa
probabilidade o surgimento de um nome de terceira via que encante o eleitorado
e obrigue os operadores do Centrão, em todas as suas facções, a refazer os
cálculos. Por via das dúvidas, melhor nem tentar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário