O Globo
Sim, hoje é o último dia para tirar ou
transferir o título de eleitor. Mas isso não é desculpa para não fazê-lo. Nunca
foi tão importante que todos aqueles interessados em definir que rumo o Brasil
tomará entendam que o caminho para isso começa pelo voto. E parece que os
jovens, justamente aqueles cuja vida será mais afetada, e por mais tempo, por
decisões dos políticos que venham a ser eleitos ou reeleitos em outubro, estão
desconectados dessa realidade.
Pesquisa Ideia Big Data feita para o Jornal
Nacional mostra o tamanho do problema: os jovens de 16 e 17 anos se informam
sobre política por uma teia desconexa que tem portais, blogs e telejornais, mas
também WhatsApp, Instagram, Facebook e até TikTok.
O levantamento mostra uma postura passiva
do jovem diante da política: depois de ser impactados por informações que
chegam em doses fracionadas por essas fontes heterogêneas e, em grande medida,
heterodoxas, eles não se sentem aptos ou motivados a debater e opinar sobre
aqueles conteúdos.
As razões são um mix dos dilemas que consomem em alguma medida todo aquele, de qualquer faixa etária, que se aventura no mar bravio das redes: medo de ser cancelado, o tom agressivo do debate e uma sensação de que aquilo que você disser não convencerá ninguém. Nesse cenário, não é de estranhar que tenhamos assistido neste ano ao menor índice de jovens na faixa em que o voto não é obrigatório se inscrevendo para votar.
A correria tipicamente brasileira nestes
três últimos dias pode ajudar a atenuar a ausência desse público jovem das
urnas em outubro, graças sobretudo a uma campanha, também tardia e não muito
coordenada, que envolveu Justiça Eleitoral, artistas e formadores de opinião —
e foi condenada ou ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, por seus filhos e
por aquele entorno de sempre.
Outra pesquisa recente, do instituto Ipec,
mostra que os jovens também não estão mobilizados para a necessidade e a
importância de defender a democracia. Só 38% da faixa etária dos 16 e 17 anos
diz que ela é um valor absoluto que deve ser preservado.
Diante de tal quadro de apatia e confusão
quanto à política e ao papel que podem exercer como cidadãos, fica evidente que
não basta instar a geração Z a tirar o título, mas é preciso que pais, avós,
tios, professores, políticos e jornalistas percebamos que é preciso falar de
uma forma que ela se interesse, se identifique e entenda que falar sobre
política é falar sobre o futuro que quer para si, para os familiares e amigos,
para o país e o mundo.
Numa realidade em que cada vez mais o
futuro do trabalho será transformado, em que as habilidades sociais e
discursivas contarão mais que determinado saber técnico imutável que formou
gerações de trabalhadores até aqui e em que fatores como mudanças climáticas e
novas pandemias poderão impactar de forma severa e muito rápida a existência
dessas novas gerações, omitir-se por medo de ser cancelado não é uma opção
inteligente.
Que os adultos assistam aos seus filhos e
netos trancados no quarto em posição letárgica diante de uma ou várias telas,
recebendo pedaços não confiáveis de informação de forma randômica, é uma
tremenda irresponsabilidade, que não poderá ser redimida com a desculpa de que
se está investindo em bons colégios e cursos de línguas.
Não se trata de uma opção entre esquerda e
direita, essa dicotomia burra a que tudo sempre acaba reduzido — mesmo porque
os dois levantamentos aqui citados mostram que, diferentemente do senso comum,
esse jovem sub-18 se diz mais de direita que de esquerda.
A questão é formar futuros adultos aptos a
mudar o estado de coisas caóticas ou desalentadoras que eles mesmos detectam,
nas redes sociais ou no debate público fora delas. O primeiro passo para essa
mudança é ir à urna eletrônica em 2 de outubro.
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