sexta-feira, 17 de junho de 2022

Bernardo Mello Franco: A UFRJ pede socorro

O Globo

Depois de dois anos de pandemia, a Universidade Federal do Rio de Janeiro corre o risco de voltar a fechar as portas. A ameaça não tem a ver com novos surtos do coronavírus. É resultado da asfixia financeira imposta pelo governo.

Na quarta-feira, a direção da UFRJ fez um pedido público de socorro. Segundo a reitora Denise Pires de Carvalho, a universidade só tem verbas para bancar suas despesas básicas até agosto. “Daqui a dois meses, não teremos mais como pagar as contas de luz e de água”, avisou.

O governo anunciou em maio o bloqueio de 14% do orçamento do Ministério da Educação. Isso inclui recursos destinados à manutenção de institutos e universidades federais. Metade da verba foi liberada, mas não há garantia de que o resto será devolvido até o fim do ano.

Na UFRJ, o corte de R$ 23,9 milhões agrava uma situação que já era de penúria. Em valores corrigidos pela inflação, o orçamento despencou de R$ 725 milhões em 2012 para R$ 329 milhões em 2022.

O estrangulamento aumentou após a aprovação da emenda do teto de gastos, em 2016. Até receitas próprias da universidade passaram a ser confiscadas para que o governo cumpra suas metas fiscais. Neste mês, a UFRJ perdeu R$ 6,1 milhões que havia arrecadado com aluguéis.

“O chamado orçamento secreto está intocado. Não é um problema financeiro, é uma escolha política de onde cortar”, protestou o pró-reitor de Planejamento e Finanças, Eduardo Raupp.

A UFRJ é a maior universidade federal do país. Tem quase 70 mil estudantes, 1.400 laboratórios e nove unidades de saúde. Seus cientistas desenvolvem uma vacina contra a Covid-19 e acabam de diagnosticar o primeiro caso de varíola dos macacos no estado do Rio.

O maior campus, na Ilha do Fundão, equivale a uma cidade de médio porte. Hoje parte desta cidade parece abandonada. Nesta semana, O GLOBO mostrou o cenário de obras inacabadas e prédios em péssimo estado de conservação. Até o edifício da Reitoria sofre com elevadores parados e salas interditadas após um incêndio.

A deterioração do patrimônio tombado é uma das consequências dos cortes de verbas. A UFRJ ainda não conseguiu reabrir o Museu Nacional, incendiado em 2018, e a Capela de São Pedro de Alcântara, consumida por chamas em 2011.

Agora as preocupações se voltam para a Escola de Música, na Lapa. Lá estão partituras originais de Villa-Lobos e um órgão de seis mil tubos, que já precisou ser salvo de uma infestação de cupins.

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